O gaucho de todos os argentinos
Personagem do poema fundador de José Hernández, o gaucho Martín Fierro ocupa um lugar central no imaginário argentino há mais de 150 anos. Ao mesmo tempo indígena e paternalista, esse “filho da pátria” foi reivindicado por Perón e é referência constante do papa Francisco. Ainda assim, algumas vozes críticas, inclusive a de Jorge Luis Borges, se fazem ouvir
Os jogadores alemães acabavam de vencer os argentinos. Diante da multidão que os recebia em Berlim, zombaram de seus adversários. Entraram em cena com as costas encurvadas, cantando em uníssono: “Gauchos andam assim, andam os gauchos assim!”. Em seguida, ergueram o corpo com orgulho e retomaram no mesmo tom: “Alemães andam assim, andam os alemães assim!”. Os espectadores gritaram de alegria e repetiram em coro.1 Era julho de 2014, um dia após a final da Copa do Mundo da Fifa. Uma onda de indignação se espalhou por Buenos Aires. Ao perceberem que zombavam dos gauchos, muitos torcedores saíram às ruas para se manifestar e lavar o que consideravam uma afronta. Assim como o jornalista peronista Víctor Hugo Morales, muitos chegaram ao ponto de Godwin na velocidade da luz: os jogadores alemães são apenas “nazistas sujos!”. No entanto, quem são esses gauchos cuja honra estava sendo defendida? Embora os jogadores alemães…