“O golpe trouxe à tona algumas questões importantes”
O que fazer após o afastamento da presidenta Dilma Rousseff, concretizado no dia 12 de maio? O Le Monde Diplomatique Brasil convidou pensadores e lutadores sociais de diversos matizes para debater como lidar com a crise e trabalhar com certos elementos, como a guerra das ideias, as eleições municipais de outubro e a orIvo Lesbaupin
Quais são os caminhos para organizar a resistência aos ataques aos direitos?
É preciso:
• mobilizar a sociedade, a parte que defende os direitos: promover mobilizações de todos os tipos e tamanhos – gerais, por segmentos, por categorias, por redes;
• mobilizar para enfrentar questões específicas, como a reforma da Previdência, especialmente a desvinculação dos benefícios da Previdência do salário mínimo;
• sensibilizar diferentes setores da sociedade para com a causa dos direitos humanos, pelos direitos trabalhistas, pela defesa da Constituição Cidadã de 1988, que garante esses direitos;
• que os movimentos sociais, as frentes e as redes de organizações da sociedade civil (OSCs) se articulem;
• fazer campanhas pelas redes sociais e abaixo-assinados pela internet;
• promover tomadas de posição coletivas e públicas: gerais e por setores, de intelectuais, artistas, professores, estudantes, universidades, entidades, redes de entidades;
• promover debates, seminários, oficinas, além de divulgá-los, torná-los públicos;
• apostar nas juventudes: são o setor social mais criativo e mais resistente no momento atual do Brasil (desde, pelo menos, junho de 2013).
Como atuar na guerra das ideias e na comunicação?
Que meios nós temos? Alguns intelectuais e jornalistas reconhecidos escrevem regularmente e, às vezes, extraordinariamente, em órgãos da grande mídia. Há que aproveitar essa capacidade. É possível conseguir espaço na grande mídia com eventos significativos, sejam eles maciços, sejam criativos. Utilizar essas formas para chamar atenção. Temos meios impressos alternativos. Temos uma vasta mídia alternativa virtual. Temos os blogs de jornalistas alternativos e os inúmeros sites e blogs de OSCs, ONGs.
É preciso utilizar todos os meios ao nosso alcance para difundir ideias críticas e promover debates. Particularmente nas redes sociais, promover o máximo de compartilhamento das matérias que contribuem para esclarecer, criticar, denunciar, aprofundar. Fornecer elementos, matérias, artigos, para a mídia internacional, elemento absolutamente fundamental para mostrar a ruptura democrática que ocorreu e está em curso. Denunciar as inconsistências do novo governo, das novas políticas, das novas medidas. Denunciar o programa de redução de direitos e suas justificativas: desde a reforma da Previdência até a trabalhista. Desmontar as justificativas: a Previdência tem um “rombo”, “não há mais recursos”, “precisamos privatizar empresas públicas”…
Cobrar:
• a auditoria da dívida pública;
• uma reforma do sistema tributário que torne nosso sistema progressivo;
• a redução da taxa de juros (14,25%) imediatamente ao nível das taxas que vigem nos países mais desenvolvidos (entre –1 e +1%).
Esse processo de golpe trouxe à tona algumas questões importantes: deixou claro que precisamos urgentemente democratizar o sistema de justiça; reforçou o movimento pela democratização dos meios de comunicação – sem isso, não é possível haver democracia –; revelou que temos urgente necessidade de uma reforma ampla e profunda do sistema político.