O inimigo dos EUA já foi o comunismo, o nazismo, o terrorismo. Agora é a Diversidade?
Durante o seu discurso de posse em 20 de janeiro de 2025, o presidente Donald Trump anunciou medidas que impactam diretamente as políticas de Diversidade nos Estados Unidos
Ao longo da história, os Estados Unidos já tiveram muitos inimigos e já declararam muitas guerras. Fictícias ou não, é como se cada governo precisasse colocar um alvo bem grande nas costas de algo ou alguém. Uma forma de unir o povo, de desviar a atenção para a eficácia da gestão pública, de justificar com facilidade qualquer equívoco ou atrocidade, de fazer milhões com a indústria armamentista, por exemplo.
O inimigo já foi o Comunismo, o Nazismo, o Terrorismo. O comunismo foi visto como um grande adversário durante a Guerra Fria (1947–1991), tido como uma ameaça à democracia e ao capitalismo. A União Soviética e seus aliados eram o símbolo dessa ideologia, e os EUA reagiram com políticas de contenção, guerras e ações internas.
Já o nazismo foi o inimigo principal durante a Segunda Guerra Mundial (1939–1945). Liderados por Adolf Hitler, os nazistas representavam um regime autoritário e expansionista. Após o ataque japonês a Pearl Harbor, os EUA entraram na guerra em 1941 e desempenharam um papel decisivo na derrota das potências do Eixo.
O terrorismo, por sua vez, tornou-se o principal inimigo após os ataques de 11 de setembro de 2001, perpetrados pela Al-Qaeda. Esses eventos levaram os Estados Unidos a lançar a “Guerra ao Terror”, com intervenções militares no Afeganistão e no Iraque, além de ações globais para combater grupos extremistas, como o Estado Islâmico. A justificativa foi sempre a proteção da segurança nacional e da ordem internacional.
Recentemente, em uma conversa entre mim e a Dra. Fernanda Macedo, ela concluiu e eu concordei, que a guerra do momento, inicialmente simbólica e não bélica, instaurada por Trump, mesmo antes da posse, é contra a Diversidade. Ao que tudo indica, a luta por direitos e a igualdade para mulheres, negros, pessoas com deficiência, LGBTQPIAN+, imigrantes, entre tantos outros, é a grande bandeira do presidente norte-americano e a nova inimiga da nação.

Durante o seu discurso de posse em 20 de janeiro de 2025, o presidente Donald Trump anunciou medidas que impactam diretamente as políticas de Diversidade nos Estados Unidos. Ele declarou que seu “governo reconheceria oficialmente apenas dois gêneros: masculino e feminino”.
Além disso, Trump afirmou que tomaria ações executivas para eliminar os mandatos federais de Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI), argumentando que tais políticas fomentam discriminação e incompetência. Ele ordenou a remoção de referências a DEI em comunicações governamentais e enfatizou a contratação baseada exclusivamente no mérito, sem considerar fatores como raça, sexo ou religião.
O movimento é ostensivo, grandes empresas americanas como Meta, Microsoft, McDonald’s e Toyota já afirmaram, em certa medida, um refreamento em suas políticas de Diversidade. Hoje, ao entrar no site da Casa Branca, me deparo com um banner em letras garrafais que dizem “Acabar com a Discriminação Ilegal e restaurar a oportunidade baseada no mérito”. O que é mérito? Me pergunto. O mérito dos homens brancos que já ocupam mais de 70% dos postos de tomada de decisão no primeiro, segundo e terceiro setor em todo o mundo? O mérito que desconsidera ponto de partida, atrocidades históricas, algumas delas inclusive incentivadas e exercidas pelo próprio governo dos Estados Unidos?
Me parece que querer uma sociedade justa e equânime deveria ser uma premissa básica de todo e qualquer líder global, sobretudo em uma das maiores nações do planeta. Neste sentido, o inimigo escolhido pelo governo Trump diz muito mais sobre ele, do que sobre nós, latinos, negros, LGBTQPIAN+, e todos os outros sob ataque.
Mais uma vez, me pergunto: onde falhamos? O que podemos aprender com isso? Precisamos nos antecipar para evitar que, no futuro, tenhamos um presidente que tenha a coragem de afirmar abertamente ser contra a Diversidade e a Inclusão, utilizando até mesmo a máquina pública para promover retrocessos. É crucial fortalecer as redes de apoio, criando alianças estratégicas entre diferentes setores da sociedade, como a academia, o empresariado e os líderes comunitários, para garantir que as políticas públicas de inclusão se mantenham firmes e eficazes, independentemente das mudanças no cenário político.
Liliane Rocha é CEO e Fundadora da Gestão Kairós, mestre em Políticas Públicas pela FGV e conselheira deliberativa do Instituto Tomie Ohtake.