O que esperar do G-20 no Brasil?
A organização do G-20 é um momento de protagonismo do Brasil perante o mundo. É a hora do país apresentar suas credenciais de grande país através de uma voz ativa nos grandes debates globais
No próximo mês de novembro, a cidade do Rio de Janeiro sediará a próxima edição do G-20, sob a presidência do Brasil. Pela primeira vez, o país sediará o encontro com a responsabilidade de apresentar sua voz nos três grandes temas: economia, meio ambiente e combate à fome.
O G-20 é um grupo informal criado em 1999, durante a crise econômica na Ásia. Ele foi proposto com o objetivo de ser um espaço de diálogo para fortalecimento de mercados e economias (LYRIO; PONTES, 2024). Em 2008, o G-20 foi renovado o intuito de discutir ações econômicas que revertessem a crise econômica imobiliária nos EUA. Após diversas mudanças no mundo, o fórum agregou novos assuntos para a agenda anual. No encontro no Rio de janeiro, o grupo buscará discutir os grandes debates mundiais, por exemplo, economia, meio ambiente, combate à fome e guerras.
O evento ocorre após alguns anos de perfil baixo externo em que o país desistiu de sediar conferências e grandes eventos durante o governo Bolsonaro, por exemplo, a COP-25. O evento sobre meio ambiente foi organizado pelo vizinho, Chile. A nova política externa (ou antiga com novas matizes) do governo Lula prometeu retomar o protagonismo e a voz ativa em grandes debates globais. A promessa eleitoral de 2022 será realidade com a organização do G-20 no Rio de Janeiro e da COP-30 em Belém do Pará no ano que vem.
É bom relembrar no próprio G-20, o papel que o Brasil exerceu entre 2019-2022, quando não esteve presente nas grandes discussões mundiais. Inclusive, no ano de 2019, os líderes das grandes economias (China, Rússia) apontavam em fazer reuniões informais sem a presença do país. Era um momento de “low profile” (baixo perfil) de uma política externa reativa e modesta (MOREIRA, 2023).
Para o Brasil, será um momento de propor novos caminhos para agendas pouco apreciadas pelos países desenvolvidos, como o combate à fome. A partir de um Pacto Global contra à fome, o país pretende apresentar medidas que possam reduzir as assimetrias entre os países no mundo em termos sociais.
Além disso, outro local em que o país buscará ser protagonista é a agenda do meio ambiente. Embora, nesse campo existe uma certa contradição no discurso diplomático e no que a realidade demonstra sobre queimadas, será um momento para o Brasil fazer um apontamento crítico sobre suas políticas públicas para a área.
Outro aspecto a observar são as guerras em curso na atualidade, especificamente acerca do conflito entre Rússia e Ucrânia e de Israel contra o Hamas. Vale lembrar que o Brasil junto com a China liderou o “Grupo de amigos pela paz” no qual 12 países buscam mecanismos que levem a paz no conflito russo-ucraniano. Apesar do esforço coletivo, a tentativa de paz foi rejeitada pelo presidente ucraniano, Zelensky. Já Putin apenas fez comentários superficiais sobre o acordo.
Uma iniciativa muito importante da presidência brasileira no G-20 é o espaço que abriu para as ONGs, movimentos sociais e sociedade civil organizada participarem das discussões do fórum. Em agosto, ocorreu uma reunião entre o governo brasileiro e os movimentos sociais para discutir a questão do combate à fome e à pobreza. Além disso, é aberto um espaço para ativismo digital de propostas sobre os assuntos que serão discutidos no agrupamento.
Ao abrir espaço para novas vozes falarem de temas sociais, econômicos, militares e meio ambiente, o Brasil aponta para uma governança global mais democrática e inclusiva. É um momento de ampliar os atores com o intuito de mostrar que é possível conectar assuntos internacionais para além da alçada dos representantes oficiais de cada país. Essa medida torna o ambiente mais horizontal e plural.
É nesse ponto que uma questão crítica deve ser pensada, até que ponto o Brasil tem força para alçar sua voz em temas de guerra? A resposta não é simples, visto que o país nem sempre é escutado pelas grandes potências quando se trata de conflitos internacionais. Por outro lado, a iniciativa em buscar medidas para a paz entre Rússia e Ucrânia é uma forma de dizer que a nação brasileira possui posicionamento no cenário internacional.
Para concluir, a organização do G-20 é um momento de protagonismo do Brasil perante o mundo. É a hora do país apresentar suas credenciais de grande país através de uma voz ativa nos grandes debates globais. Mesmo que algumas ações não tenham sucesso no curto prazo, mas no médio e longo prazo poderão prosperar a partir de uma decisão ativa e altiva brasileira.
Referências bibliográficas
LYRIO, Mauricio Carvalho; PONTES, Kassius Diniz. O G-20. Brasília: FUNAG, 2024.
MOREIRA, Danilo Sorato. O BRASIL E O BRICS NO G-20. Jornal O Visto, Universidade Federal de Santa Catarina. Disponível em: https://ovisto.ufsc.br/2019/08/30/o-brasil-e-o-brics-no-g-20/.
MOREIRA, Danilo Sorato. Uma análise comparativa da política externa brasileira nos seis primeiros meses dos governos Bolsonaro e Lula III . Orbis – Boletim do LEPEB/UFF , v. 1, n. 3, p. 17-21, 20 set. 2023.
Danilo Sorato é professor de História e Relações Internacionais. Doutorando em Estudos Estratégicos pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Escreveu diversos artigos acadêmicos e jornalísticos sobre as relações internacionais do Brasil, em especial os governos Temer, Bolsonaro e Lula.