Os especialistas em terrorismo
Veteranos de grupos de elite da polícia, dos serviços secretos e das Forças Armadas, um novo batalhão invade a mídia: o de especialistas em terrorismo. Eles defendem uma mensagem securitária e pró-guerra repetida infinitamente por governantes.Gilles Balbastre
“É a guerrilha que chega à França”
(Valeurs Actuelles, 19 nov. 2015).
Bernard Squarcini ocupou, entre 2008 e 2012, a Direção Central da Informação Interior (DCRI), originada da fusão entre as Informações Gerais (RG) e a Direção da Vigilância do Território (DST), e renomeada em 2014 Direção-Geral de Segurança Interna (DGSI). Antigo consultor da LVMH, o grupo de Bernard Arnault, a maior fortuna francesa, Squarcini criou a Kyrnos Conseil, uma empresa especializada na “inteligência econômica e da segurança”. Ele apoia Christian Estrosi (Os Republicanos) nas eleições regionais francesas deste ano. Em abril de 2014, o fiel apoiador do ex-presidente Nicolas Sarkozy foi condenado a pagar 8 mil euros de multa pela “coleta de dados de caráter pessoal por um meio fraudulento, desleal ou ilícito”, no caso das contas telefônicas do jornal Le Monde. Mas essa condenação não esfriou o interesse que a grande mídia tem sobre ele, começando pelo… Le Monde.
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“É muito, muito, muito preocupante. Eles estão entre nós”
(France Culture, 18 nov. 2015).
Veterano do Serviço de Ação da Direção-Geral da Segurança Exterior (DGSE), Pierre Martinet ficou conhecido em 2002: ele tinha sido encarregado pelo Canal Plus de vigiar Bruno Gaccio, um dos criadores do programa Les Guignols de l’info. Em 2011, foi condenado a quinze meses de prisão domiciliar e a pagar 5 mil euros de multa por espionagem no caso. Desde então, ocupa o cargo de diretor de operações na Corpguard, empresa especializada em informação e segurança econômicas. Elemento essencial do programa C dans l’air, do canal France 5, ele também alimenta o site Soldats de France, da União Nacional dos Combatentes, e os programas da France Culture.
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“Devemos nos preparar
para todos os riscos”
(France Inter, 19 nov. 2015).
Alain Rodier é um ex-oficial superior dos serviços de informação franceses. Ele dirige a pesquisa no Centro Francês de Pesquisa sobre o Terrorismo (CF2R), estrutura que serve principalmente para fornecer a ele um cartão de visitas junto à mídia. Do site conservador Atlantico à revista militar RAID, do jornal Le Figaro à revista POLICEpro, ele seduz particularmente a imprensa de direita. Isso não o impede, no entanto, de responder aos convites da BFM, da I-Télé, da Europe1 e do jornal televisivo do canal France 2. O outro fundador do CF2R, Éric Denécé, muito cortejado pelo programa C dans l’air, mostra-se em geral discreto sobre seu passado: em meados dos anos 1990, ele se engajou no lamaçal anticomunista no Camboja e apoiou a multinacional Total na Birmânia.
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“É uma situação
de guerra”
(France TV Info, 18 nov. 2015).
Negociador da unidade de elite da polícia nacional Pesquisa, Assistência, Intervenção, Dissuasão (RAID), Christophe Caupenne criou o escritório Caupenne Conseil, que “dá assistência às empresas nas áreas-chave que são a segurança, a administração, a negociação e a gestão de crise”. Ele divide seu tempo entre a televisão e seus cursos de formação em empresas, onde coloca em prática a máxima de sua própria empresa: “Antecipação, discrição, eficiência”. Essa marca seduziu a Bouygues Telecom, que organizou uma palestra com ele em 2014 num seminário intitulado “Decidir nos momentos de incerteza”, sobre os temas “Surpreender nossos adversários”, “Estar onde ninguém espera” e “Saber dividir o adversário”. O site de sua empresa coloca em destaque a página “Mídias”, na qual são listadas suas participações. Sua especialidade? Os conselhos para se adaptar ao mundo no qual vivemos agora: “Os blasts – as supressões causadas por uma explosão – são muito perigosos, pois os órgãos próximos da explosão podem se deslocar no interior. Aconselhamos neste caso a abrir a boca para evitar os problemas de pressão exagerada. Mas é preciso esperar, evidentemente, que os tímpanos sejam rompidos e que se sinta um zumbido” (Atlantico, 18 nov. 2015).
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“Uma espécie de amostra do
que vamos viver no futuro”
(France TV Info, 14 nov. 2015).
Louis Caprioli foi responsável pela luta antiterrorista pela DST entre 1998 e 2004. Membro do diretório do grupo GEOS, presidido pelo general Didier Bolelli, ele aconselha empresas que desejam se desenvolver internacionalmente “em zonas degradadas”. No site do grupo, é difícil não perceber a aba “Atualidade”, que compila, por exemplo, suas nove intervenções midiáticas entre 14 e 16 de novembro de 2015. No C dans l’air, ele explicava: “O estado de emergência que foi decretado torna possível nos livrar, por medidas administrativas, das pessoas sobre as quais os serviços de polícia não possuem elementos suficientes para perseguir judicialmente, mas que ainda assim são objeto de investigações e vigilâncias”.
“Faz anos que deveríamos
estar em estado de emergência”
(Ouest France, 15 nov. 2015).
Antigo negociador do Grupo de Intervenção da Guarda Nacional (GIGN), Bernard Thellier aparece como um recém-chegado, mas dispõe de uma vantagem valorizada pelo site de sua empresa de consultoria Précognition: ele foi “diplomado pelo FBI” norte-americano! Suas intervenções midiáticas (Europe 1, I-Télé, BFM) lhe permitem antes de mais nada insistir sobre a emergência, para a qual Précognition ajuda as empresas a se prepararem: “Infelizmente, o mal já está no interior” (Ouest France, 15 nov. 2015).
Gilles Balbastre é jornalista e codiretor, com Yannick Kergoat, do documentário Les Nouveaux Chiens de Garde [Os Novos Cães de Guarda], (Jem produções, 2012).