Paranoias norte-americanas
Novo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden afirmou logo de início sua vontade de reconciliar um país dilacerado, rompendo ostensivamente com a herança de seu predecessor. Concretizar esses dois objetivos será delicado, pois republicanos e democratas se odeiam e a amargura paranoica de uns conforta as tentações disciplinadoras de outros
A era Trump terminou numa apoteose de egoísmo, incompetência e violência. O presidente bilionário guardou o pior para o fim. Após perder a eleição de 3 de novembro de 2020, recusou-se a aceitar a derrota e atulhou os tribunais com dezenas de recursos – todos rejeitados até por juízes que ele havia nomeado –, alegando que a vitória era sua e lhe fora roubada por meios não especificados. Essa teoria absurda tornou-se sagrada para os políticos republicanos, notadamente os mais jovens e mais ambiciosos, que se apressaram a endossá-la. O ponto culminante foi atingido em 6 de janeiro, quando Trump convocou seus partidários a se dirigir ao Capitólio, em Washington, onde os parlamentares se preparavam para atestar o resultado do escrutínio. O mundo inteiro sabe o que aconteceu: a turba atacou a sede do Poder Legislativo numa erupção de violência histriônica, e viram-se amotinados com chifres de bisão ou vestidos…