Quem é mais identitário do que Donald Trump?
A perseguição à população trans e ao identitarismo progressista desempenha papel central na estratégia da extrema direita, pois permite a criação de um inimigo interno contra o qual se mobiliza a base eleitoral. Isso se insere em um projeto mais amplo de consolidação de uma ordem hierárquica e disciplinadora, na qual determinados grupos são sistematicamente marginalizados para garantir a permanência de elites políticas e econômicas no poder
Ao analisar as novas configurações do fascismo contemporâneo, o historiador italiano Enzo Traverso destaca que esse fenômeno continua a operar por meio da exclusão.[1] Embora tenha assumido características distintas das do fascismo clássico, ele mantém suas bases autoritárias e reacionárias. Um dos pontos centrais de sua análise é a relação entre identitarismo e extrema direita. Traverso argumenta que os movimentos ultraconservadores atuais adotam uma forma de identitarismo excludente, pautado na defesa de uma identidade nacional, étnica e cultural homogênea. Diferentemente dos fascismos do século XX, que frequentemente se apoiavam em ideologias de supremacia racial explícita, o “pós-fascismo” reformula esse discurso de modo a torná-lo mais palatável dentro das democracias liberais. Essa estratégia se manifesta, por exemplo, na rejeição a imigrantes, no repúdio ao multiculturalismo e na defesa de valores “tradicionais” como forma de resistência à globalização e à diversidade. Ao mesmo tempo, Traverso diferencia esse identitarismo excludente do identitarismo progressista,…