Rússia: reprimir mais, prender menos
A população carcerária da Rússia caiu para menos da metade nos últimos vinte anos. Isso mostra que a cobertura da mídia sobre as prisões políticas, multiplicadas por dez desde 2015, oferece uma imagem parcial do que se passa com a justiça criminal do país. Entretanto, mesmo que a duração das penas tenha diminuído, o sistema continua programado para punir
Boris Nemtsov morreu aqui. Na calçada gelada, rosas e ramos de abeto circundam o rosto do dissidente político, uma figura perseguida do movimento anticorrupção e antiguerra desde a anexação da Crimeia. Detido três vezes e encarcerado, ele foi misteriosamente baleado nesta ponte em fevereiro de 2015, a poucas dezenas de metros das fortificações do Kremlin. “Hoje, você não precisa mais ser um ativista conhecido para ficar preocupado”, diz Sergei Davidis, que nos leva à Rua Tverskaya, a “Champs-Élysées russa”. Responsável pelo programa de apoio a presos políticos na ONG Memorial, o quinquagenário de aparência cazaque tem um hábito típico das pessoas perseguidas: passa o tempo todo olhando furtivamente ao seu redor. Mais de 15 mil pessoas já foram presas por protestar contra a invasão russa na Ucrânia, de acordo com a ONG OVD-Info. A explosão de prisões arbitrárias não é novidade. Renata Mustafina, doutoranda especializada em julgamentos políticos na Rússia…