O jogo pesado dos ruralistas
As eleições não pacificaram o país. E os ruralistas entendem que aqueles que se opõem a seus interesses têm de ser destruídos
As eleições não pacificaram o país. E os ruralistas entendem que aqueles que se opõem a seus interesses têm de ser destruídos
Após décadas de industrialização da agricultura, a maior parte das áreas agrícolas do Brasil está ocupada com grandes extensões de monoculturas transgênicas envenenadas, e o agronegócio segue devastando a terra, a natureza, comunidades e modos de vida
Uma nova elite agrária nos países da Bacia do Prata representa uma mudança relevante para a política da região – e apresenta uma nova geografia das práticas políticas
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Parte dos 7 litros de venenos que cada habitante no Brasil consome por ano, depois de causar os danos em seus corpos, vai chegar, cedo ou tarde, através das águas, em todos os cantos do planeta, porque o “fora” não existe em termos de contaminação ambiental
PL 6.299/2002, em tramitação na Câmara dos Deputados, representa grandes retrocessos. A proposta reduz poderes do Ibama e da Anvisa e concede ao Ministério da Agricultura a competência para a liberação dos agrotóxicos, propõe a flexibilização do controle do Estado, retira a competência de estados e municípios para elaborar leis mais específicas e restritivas e libera qualquer agrotóxico aprovado em pelo menos três países da OCDE, além de propor a mudança na denominação dessas substâncias, que passariam a ser chamados “produtos fitossanitários” ou “produtos de controle ambiental”
Está em pauta no Congresso um projeto de lei que diminui o rigor da avaliação do impacto ambiental e de saúde do uso de defensivos agrícolas. A flexibilização das regras pode resultar na venda e aplicação com menos controle dos agrotóxicos
Pela primeira vez em dez anos, a fome no mundo não recuou, segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). Parte desse desastre pode ser explicada pelo aquecimento global e por conflitos armados, mas as razões passam também pelos acordos de livre-comércio, que impõem a abertura das fronteiras, levando agricultores locais à ruína
Jacques Berthelot
Esforço virtuoso em prol do emprego, do uso dos recursos e da saúde pública, a agricultura orgânica progride rapidamente na França. A tal ponto que a indústria agroalimentar e os grandes supermercados pretendem se apossar do negócio, com o risco de apagar seus fundamentos por meio da pressão pela redução das exigências de qualidade
O relatório “Conflitos no Campo Brasil 2016” da CPT traz índices recordes e ainda mais preocupantes: aumentaram todos os tipos de conflito (maiores números dos últimos 10 anos, o de terra maior em 32 anos de documentação) e todas as formas de violência no campo em relação a 2015. Os assassinatos tiveram um aumento de 22%, menor índice de aumento em 2016, mas o maior número desde 2003. As agressões tiveram o maior índice de aumento: 206%
4 milhões de trabalhadores assalariados rurais, dos quais apenas 40% têm carteira de trabalho assinada e os outros 60% vivem na informalidade, podem perder seus direitos básicos caso seja aprovado o Projeto de Lei 6442/2016. A extensão da jornada para 12 horas diárias e o já previsto aumento dos anos de contribuição para a Previdência Social devem acarretar uma sobrecarga de trabalho, sobretudo, para as mulheres do meio rural
Sob Temer, interesses privados e paroquiais instalados no Congresso e no Executivo passaram a operar sem nenhum filtro, freio ou contrapeso. Todos os sonhos dos ruralistas começam a se realizar; nenhuma proposta é ousada demais.
Em entrevista, o porta-voz da Agência Federal pela Segurança da Cadeia Alimentar (Afsca) da Bélgica, Philippe Houdart, afirma que houve reforço no controle da União Europeia sobre as importações de carne brasileira e até toparia comer um churrasco com carne do Brasil em Bruxelas, sede das instituições europeias.
O capital financeiro promove a “terceirização” dos negócios com terras, em analogia ao trabalho terceirizado predominante no corte de cana. De forma semelhante, fundos internacionais se isentam de responsabilidade por impactos causados com a especulação, já que não são proprietários diretos das terras, mas sóciosFábio T. Pitta e Maria Luisa Mendonça
Para enfrentar o aquecimento global, a União Europeia deveria refletir sobre seu modelo agrícola, que mais do que nunca acompanha a globalização liberal. Ao desenvolver a agroecologia, a França poderia, por exemplo, reduzir consideravelmente suas emissões de carbono e produzir alimentos de qualidade em quantidadeGérard Le Puill
Considerando os últimos trinta anos – recessão nos anos 1980, desindustrialização, baixo crescimento e ampliação da desigualdade nos 1990 –, torna-se significativo que é num período de crescimento com redução da desigualdade que surgem as condições para a emergência do crescimento econômico/instabilidade políticaPaulo Augusto André Balthazar
A Constituição Federal (art. 51 do ADCT) e a do estado do Pará (art. 15) determinaram a revisão da legalidade das titulações de terras realizadas a partir da metade do século passado, permitindo o combate à grilagem. Passadas duas décadas, nem o Congresso Nacional nem o estado do Pará cumpriram suas obrigaçõesGirolamo Domenico Treccani
A economia do agronegócio como pacto de poder representa uma estratégia fundamental de captura da renda da terra, à revelia dos interesses mais gerais do país, que aí não cabem. Esse pacto, contudo, é uma construção hegemônica moderna, e não uma dominação clássica ao estilo “latifúndio improdutivo”Guilherme C. Delgado