É preciso modificar seres vivos transformando as informações que os organismos transmitem de uma geração a outra? Dispomos cada vez mais de ferramentas que permitem interferir nos genomas de maneira dirigida e precisa, o que a natureza faz aleatoriamente. Antes do êxtase ou do pavor, a perspectiva reclama uma reflexão racional: por que e para que fazer isso?
Recentemente, assistiu-se ao surgimento de tecnologias genéticas complexas, cujos poderes fascinantes e temíveis foram popularizados pelos meios de comunicação: o CRISPR-Cas9, “tesoura genética”, e o gene drive, ou “forçagem genética”. Um primeiro teste chinês que usou a tecnologia CRISPR em 2015 para reparar embriões humanos anormais acelerou a autorização de projetos de pesquisa em vários outros países, entre os quais Reino Unido e Estados Unidos
Que caminho tortuoso teremos percorrido fabricando crianças segundo o perfil aconselhado por uma biomedicina compassiva, mas dominadora, e nos preparando para aceitar a gestão dócil de nosso corpo, com DNA etiquetado!Jacques Testart
A biologia sintética não se limita à observação: agora ela passa pela engenharia e já é um grande mercado onde se pode adquirir diferentes peças para “montar” novos víruis, bactérias e leveduras. Mas os riscos da disseminação acidental ou deliberada de organismos artificiais suscitam preocupaçõesDorothée Benoit-Borwaeys
O DNA, supostamente, é um patrimônio de cada indivíduo. Mas já temos exemplos nos quais os governos se atribuem o direito de negociar o acesso aos bancos de dados genéticos com os grandes laboratórios de pesquisa. Em outros lugares, as informações são disponibilizadas para os órgãos policiais de controle
Do fichamento de imigrantes à seleção dos “embriões” mais aptos para o nascimento, os testes de DNA oferecem perspectivas terrificantes, alinhadas com a perspectiva neoliberal de constituir uma sociedade de indivíduos selecionados por sua competitividade
