Relembrando Paulo Freire como um revolucionário lutador pela liberdade
Houve, e haverá, muitas comemorações neste centenário de nascimento de Paulo Freire. Muitas delas irão tratá-lo como um ícone em vez do revolucionário que ele realmente foi
Houve, e haverá, muitas comemorações neste centenário de nascimento de Paulo Freire. Muitas delas irão tratá-lo como um ícone em vez do revolucionário que ele realmente foi
Paulo Freire constrói a pedagogia do oprimido de forma a estudar as várias formas de opressões sociais que se encontram na prática educacional na sociedade, não se limitando ao âmbito escolar, mas se estendendo a vários setores e relações de forças diferentes
Toda a teoria, as atuações e os conceitos desenvolvidos por Paulo Freire ao longo de sua vida consideraram sempre a educação nas suas relações com as questões sociais. Na sociedade capitalista, por exemplo, a educação foi analisada como uma das grandes formas de manutenção das desigualdades sociais. Mas, por outro lado, para Paulo Freire, a educação poderia contribuir para a subversão das opressões, para as pessoas serem mais e para a transformação social
O tema esperança, que permeia a obra de Freire e está encravado na noção de cenário prospectivo, está claramente vinculado à possibilidade de transformar a realidade por meio das nossas ações no mundo, em combate a um discurso fatalista e opressor que aponta que não há futuro possível
Um dia desses escutei de uma pessoa muito querida “infelizmente temos que nos arriscar, ou morremos de Covid ou morremos de fome”. Essa frase, tão dura e real me fez refletir sobre como as diferentes posições sociais estão vivenciando a crise sanitária da Covid-19, e por isso, apresento aqui as leituras de Paulo Freire como um antídoto para a pandemia.
Estamos muito distantes de uma efetiva democratização dos processos educativos, mas não podemos ser irresponsáveis e afirmar que não existe democracia nas escolas.
Apesar de Paulo Freire ser inspirador e de ter se transformado em patrono da educação brasileira, suas ideias são usadas pontualmente, e não como uma política pública aplicada ao sistema educacional brasileiro como um todo. Os governos anteriores, por mais que tivessem nas ideias de Freire um norte, não quiseram aplicar suas teorias em nosso sistema educacional
Depois de 50 anos de sua publicação, “Pedagogia do Oprimido” continua atual e se faz necessária e fundamental, porque Educação é muito mais que garantir boas notas em testes, como pretende os interesses das classes dominantes. O fazer educativo é um processo vivo, orgânico, cotidiano de formação humana e socialização
Acaba que, ao longo desse processo, Paulo Freire foi escolhido como um patrono às avessas. De acordo com a fração que se encontra no poder, ele representa aquilo que deve ser banido, aquilo que não deveria existir, aquilo que deve ser extirpado, mesmo depois de morto. Por quê?
Com uma vida dedicada à educação popular, a missionária católica Maria Valéria Rezende percorreu sertões e periferias trilhando a opção pelos pobres dentro e fora do Brasil. Tardiamente, aos 59 anos, foi inserida oficialmente no mundo literário por Frei Betto, tendo seus livros laureados com três Jabutis e o Prêmio Casa de las Américas
A elite brasileira, que adora odiar Freire, compra a peso de ouro para seus filhos o ingresso em colégios influenciados por ele. Aos filhos dos pobres, resta a disciplina escolar do século XIX
A educação escolar está submetida a propósitos intencionais, a uma doutrinação ideológica que está interessada em formar “homens latas” úteis para a reprodução das relações de produção capitalista