Impressões do campo em Roraima
Apesar de os migrantes não terem direito ao voto no Brasil, fazem parte da sociedade brasileira e são foco de grupos da extrema direita
Apesar de os migrantes não terem direito ao voto no Brasil, fazem parte da sociedade brasileira e são foco de grupos da extrema direita
À parte a declaração proto-pedófila, o caso das meninas venezuelanas de São Sebastião, Distrito Federal, é emblemático da instrumentalização ideológica que Bolsonaro procura fazer da questão migratória
Preocupada em garantir o fornecimento de petróleo durante a guerra na Ucrânia, a Casa Branca enviou no início de março uma equipe a Caracas, cujas autoridades Washington nem sequer conhecia. Após semearem o caos no país por meio de sanções, os Estados Unidos estimam que talvez a Venezuela tenha mudado suficientemente a ponto de lhes ser novamente útil
Em comparação com outros países da região, chama atenção a grande diferença tanto no número de casos confirmados como de falecimentos
Por que Juan Guaidó é o verdadeiro presidente da Venezuela? Com que rapidez o chefe de Estado brasileiro deve cortar as aposentadorias? Como os peronistas vão piorar a crise argentina? Do Le Monde ao Financial Times, um punhado de “especialistas” latino-americanos interpretam as notícias políticas da região em função de suas obsessões: livre-comércio e anticomunismo
As novas táticas empresariais de transporte e logística marítima (off transponder e ship-to-ship), que decorrem das novas estratégias nacionais de guerra comercial (com sanções e embargos), podem ter alguma relação com o recente caso de vazamentos ou derramamentos de óleo que atingiu a costa do nordeste brasileiro
A ofensiva de Washington contra o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, está apoiada no consentimento dos dirigentes conservadores da região, cada mais majoritários. Graças a eles, o intervencionismo norte-americano pôde maquiar-se com uma preocupação humanitária
O premiado repórter da The New Yorker discorda de quem chama Nicolás Maduro de ditador e ouviu Guaidó declarar-se um “social-democrata” e fã de Bernie Sanders
No país de Saddam, lançaram toneladas de bombas explosivas e mortais. Ao mesmo tempo, e como complemento de um ataque sincronizado, despejaram sobre nossas cabeças toneladas de bombas ideológicas, que nos fizeram pensar apenas no “risco Saddam”, na “ausência de democracia” no Iraque e em “direitos humanos”.
O governo reitera que o apagão no setor elétrico foi consequência de um ataque cibernético externo e sabotagem interna
Golpe de Estado, locaute, boicote das eleições… A ala radical da oposição venezuelana tentou de tudo para derrubar Hugo Chávez e depois Nicolás Maduro. Agora que o caos social e político a favorece, ela sabotou as tentativas de diálogo com o poder em 2018 e conta cada vez mais com uma intervenção norte-americana para atingir seus objetivos
Há alguns anos, o cáustico Elliott Abrams amava apresentar-se como um velho sábio, um expert em diplomacia sempre preocupado em dar sua opinião informada. Encarregado por Donald Trump de “restaurar a democracia na Venezuela”, ele voltou aos negócios. Olhando sua ficha, os habitantes que vivem onde será sua missão podem começar a se preocupar…
Paris voltou a se pôr a reboque da Casa Branca e deu seu aval ao que, aparentemente, não passa de um golpe de Estado
Sem dúvida, a queda do preço do petróleo causou uma perda de receitas para o Estado venezuelano, mas apenas isso não explica a crise que o país enfrenta
Não podemos esquecer quais grupos estão primeiro em risco em um governo Bolsonaro
Após ter representado uma luz na grande noite neoliberal dos anos 2000, a Venezuela atravessa uma grave crise. Mais de 2 milhões de pessoas já deixaram o país, em uma população total de 31 milhões. Inicialmente internas, as convulsões assumiram dimensão internacional após a imposição de sanções pelos Estados Unidos. Estas complicam a busca de soluções para as dificuldades do país
O ataque recente a um acampamento de venezuelanos no município fronteiriço de Pacaraima, que forçou o regresso de 1.200 deles ao seu país de origem, não se trata de um episódio isolado
A impressão que fica é que o abandono das populações de ambos os lados por parte dos governantes pode ser intencional e orquestrado para explodir em outubro na mídia nacional, de forma a mostrar a todos o que acontece com os tolos que votam em projetos da esquerda
A onda de ataques xenofóbicos contra refugiados em Roraima traduzem em parte os limites materiais e políticos de nossa existência. São os refugiados que nos arrancam da cegueira da rotina cotidiana e desnudam os limites do Estado-nação, a precariedade da vida e a miséria humana. Nossa miséria.
A insuficiência de ações coordenadas e adequadas do Poder Público à migração tem fomentado a baixa aceitação da sociedade local com relação aos recém-chegados, contribuindo para atos de violência e xenofobia
Estou convencido, mais uma vez, a partir do exemplo venezuelano, que a transformação estrutural, rumo ao socialismo, é muito complicada. Exige perdas humanitárias imensas. O desejo de se romper com o imperialismo, objetivo da política de Maduro, gera uma intervenção extremamente agressiva do capital internacional, que não se importa em provocar fome e matar pessoas
As classes dirigentes vão novamente mobilizar as massas a se unirem contra um mal maior para, assim, controlar a indignação popular. Como o desejo de “pureza” que tocou a população alemã nos pródomos da Segunda Guerra Mundial, estamos mais uma vez submersos em uma situação que nos impele (de forma manipulada) a negar a liberdade em prol da segurança
Profunda, sangrenta, a crise Venezuela apaixona. Na mídia grande, ela serve a uma obsessão: criticar Jean-Luc Mélenchon na França, Jeremy Corbyn no Reino Unido e Pablo Iglesias na Espanha. Mas a crise interpela também os progressistas, mergulhados na desordem. Como interpretar os acontecimentos? O que fazer? Qual será o resultado?
O desafio colocado em 2017 no Brasil não é de símbolos ou palavras de ordem, apenas, mas a esquerda precisa mostrar para a sociedade quais as saídas que poderão ser adotadas para a grave crise. É preciso enfrentar com clareza o novo momento, e levar em consideração que o atual estágio da economia não permitiria mais um Governo de consenso. Como diria o poeta: Nada será como antes, amanhã!