Nem Venezuela nem Turquia?
Não podemos esquecer quais grupos estão primeiro em risco em um governo Bolsonaro
Não podemos esquecer quais grupos estão primeiro em risco em um governo Bolsonaro
Após ter representado uma luz na grande noite neoliberal dos anos 2000, a Venezuela atravessa uma grave crise. Mais de 2 milhões de pessoas já deixaram o país, em uma população total de 31 milhões. Inicialmente internas, as convulsões assumiram dimensão internacional após a imposição de sanções pelos Estados Unidos. Estas complicam a busca de soluções para as dificuldades do país
O ataque recente a um acampamento de venezuelanos no município fronteiriço de Pacaraima, que forçou o regresso de 1.200 deles ao seu país de origem, não se trata de um episódio isolado
A impressão que fica é que o abandono das populações de ambos os lados por parte dos governantes pode ser intencional e orquestrado para explodir em outubro na mídia nacional, de forma a mostrar a todos o que acontece com os tolos que votam em projetos da esquerda
A onda de ataques xenofóbicos contra refugiados em Roraima traduzem em parte os limites materiais e políticos de nossa existência. São os refugiados que nos arrancam da cegueira da rotina cotidiana e desnudam os limites do Estado-nação, a precariedade da vida e a miséria humana. Nossa miséria.
A insuficiência de ações coordenadas e adequadas do Poder Público à migração tem fomentado a baixa aceitação da sociedade local com relação aos recém-chegados, contribuindo para atos de violência e xenofobia
Estou convencido, mais uma vez, a partir do exemplo venezuelano, que a transformação estrutural, rumo ao socialismo, é muito complicada. Exige perdas humanitárias imensas. O desejo de se romper com o imperialismo, objetivo da política de Maduro, gera uma intervenção extremamente agressiva do capital internacional, que não se importa em provocar fome e matar pessoas
As classes dirigentes vão novamente mobilizar as massas a se unirem contra um mal maior para, assim, controlar a indignação popular. Como o desejo de “pureza” que tocou a população alemã nos pródomos da Segunda Guerra Mundial, estamos mais uma vez submersos em uma situação que nos impele (de forma manipulada) a negar a liberdade em prol da segurança
Profunda, sangrenta, a crise Venezuela apaixona. Na mídia grande, ela serve a uma obsessão: criticar Jean-Luc Mélenchon na França, Jeremy Corbyn no Reino Unido e Pablo Iglesias na Espanha. Mas a crise interpela também os progressistas, mergulhados na desordem. Como interpretar os acontecimentos? O que fazer? Qual será o resultado?
O desafio colocado em 2017 no Brasil não é de símbolos ou palavras de ordem, apenas, mas a esquerda precisa mostrar para a sociedade quais as saídas que poderão ser adotadas para a grave crise. É preciso enfrentar com clareza o novo momento, e levar em consideração que o atual estágio da economia não permitiria mais um Governo de consenso. Como diria o poeta: Nada será como antes, amanhã!
Nobel da Paz em 1980, ativista argentino diz que situação da Venezuela exige serenidade. Para ele, divisão social pode ser resolvida pelo diálogo político. “Desde o governo de Hugo Chávez, a Venezuela sofreu com as agressões dos Estados Unidos, que não quer perder a hegemonia continental, e intervém em todos os governos e suas respectivas economias”
Em novembro, manifestações populares e tentativas de desestabilização intensificaram as convulsões políticas que a Venezuela já conhece bem. Ao longo de todos os anos 2000, contudo, as conquistas – sociais, geopolíticas e culturais – da revolução bolivariana suscitaram o entusiasmo dos progressistas estrangeirosRenaud Lambert