Um olhar sobre a instável hegemonia da direita radical
A grande guinada capaz de distinguir a direita radical foi a transplantação de seus embates ante a esquerda para o terreno da moral. Por meio de uma hipermoralização da realidade, que reduz todas as disputas a um confronto entre bem e mal absolutos, constrói-se um discurso no qual o universo da esquerda deve ser necessariamente erradicado
Os últimos cinco anos testemunharam claras mudanças na política brasileira. A novidade veio, sobretudo, dos setores mais radicais da direita, agora fortalecidos após as eleições, nas quais colecionaram inúmeras e muitas vezes imprevistas vitórias. A conquista de Jair Bolsonaro é apenas a superfície de uma avalanche. Os resultados do pleito não decorrem, entretanto, apenas de movimentos políticos recentes, mas vêm de longe, como consequências de um amplo e diverso processo de construção de uma nova hegemonia política. Não há como compreender os resultados eleitorais sem olhar para esse fenômeno. Trata-se de uma marca da esquerda nacional sempre atribuir suas derrotas às culpas ou miopias, caso evidente das leituras do campo sobre o golpe de 1964. Sem negar as responsabilidades de cada um na derrota, é necessário, antes, melhor compreender as forças responsáveis por perpetrá-la. Ainda em 2015, escrevi, ao lado de Fernando Perlatto, um texto sobre a crescente onda de…