Uma mina de arte em uma mina de urânio
Aos olhos ocidentais, a arte pode servir ao dinheiro, porém não à política: qualquer criação vinda de uma república socialista é suspeita. Seguindo esse princípio, os tesouros artísticos destinados aos trabalhadores foram deixados aos ratos nos desertos industriais da Alemanha Oriental após a queda do Muro de Berlim. Como a coleção de pinturas descobertas em Chemnitz, antiga Karl-Marx-Stadt…
Um grande móvel envidraçado, cheio de medalhas de honra ao mérito, em seguida um armário com bandeiras vermelhas pesadas como tapetes, utilizadas nos desfiles do Primeiro de Maio. Mais além, prateleiras com pastas atulhadas de mapas e desenhos técnicos, em que um olho atento descobre curtas palavras em russo rabiscadas nas margens. Como num museu de antiguidades, Nico Loße mergulha nas entranhas do depósito da antiga empresa de mineração SDAG Wismut, um conglomerado que, em sua idade de ouro e rodeada de um silêncio absoluto, empregava até 100 mil pessoas na extração de urânio destinado às bombas nucleares soviéticas. Chegando à última sala, ao fim dessa exploração, ele gira uma última maçaneta. Lentamente, a porta se abre para o santuário. Aqui, longe dos olhos do público e por trás das colunas que formam a imponente fachada da sede do conglomerado morto, nos subúrbios de Chemnitz, esconde-se o que constitui sem…