África, entre a democracia e os resquícios autoritários
Após um período de euforia democrática no início dos anos 1990, que viu desaparecer um a um os regimes de partido único e a adoção de Constituições que validavam a democracia liberal, os anos 2000 se caracterizam, na realidade, por inúmeros retrocessos políticos
Estava com os nervos à flor da pele. Disparei contra o presidente, uma bala no lado direito da nuca. Ele caiu. Seu chefe da guarda presidencial chegou com uma arma pesada. Começou um tumulto. Escapei enquanto levavam o ferido1.” O “presidente” é o capitão Moussa Dadis Camara, que tomou o poder na Guiné após um golpe de Estado, em 23 de dezembro de 20082. O autor do tiro, seu ajudante de campo, Abubakar Toumba Diakite, está foragido desde 3 de dezembro de 2009. Hoje, o general Sekouba Konaté assumiu as funções de chefe de Estado “interino” enquanto Moussa Dadis Camara se convalesce em Burkina Faso, após ter ficado internado em um hospital de Rabat. Encontramos na Guiné todos os ingredientes do pesadelo político africano: a pobreza; a violência; o golpe de Estado – antes da atual junta, o ex-presidente Lansana Conté havia chegado ao poder após tomada do poder em 1984;…