Malabarismo semântico
O argumento da
O argumento da
O “genocídio” dos albaneses no Kosovo, que se fingiu tentar impedir a qualquer custo, seria um genocídio de fato ou a tentativa dos Estados Unidos, via Otan, de impor sua dominação sobre os Bálcãs? Daí a recusa obstinada dos aliados de qualquer solução diplomática
Em 17 de março de 2011, o Conselho de Segurança da ONU deu o aval para uma ação militar contra o regime de Muamar Kadafi. Esse cheque em branco jurídico, que não tinha sido obtido nem na guerra do Kosovo nem na do Iraque, não levantou todas as questões relativas à incoerência moral do jogo das potências
No futuro, o Conselho de Segurança, núcleo institucional da ONU, deveria contar com não cinco, mas uma dezena de membros permanentes com direito de veto, entre os quais Índia, Brasil, Japão, Nigéria e África do Sul
Quando os bonzinhos se tornam malvados… Com a pretensão de levar a liberdade aos iraquianos, os Estados Unidos impuseram a guerra, correndo o risco de lutar contra seu próprio povo, suas liberdades e seu modo de vida
Sob a bandeira das Nações Unidas, o envio de capacetes azuis tende a se generalizar. Mas com qual finalidade? Para evitar qualquer desvio, seria conveniente ao menos aplicar à risca a Carta de São Francisco. Em 1990, por exemplo, o curso da crise do Golfo teria sido mudado…
Quem decide sobre a legitimidade de uma guerra? É preciso prevenir todos os conflitos? Como parar a engrenagem da violência? O fim do enfrentamento Leste-Oeste obrigou a repensar o sistema de segurança coletiva defendido pelas Nações Unidas
Reduzidos a uma luta entre o bem e o mal, longe de qualquer referência à história e à sociedade, os conflitos das últimas décadas desembocaram na estigmatização do antigo terceiro mundo e na instrumentalização dos direitos humanos. Tudo isso em nome de uma ideologia fundada sobre falsas simetrias
Do Kosovo ao Afeganistão, as populações foram vítimas e pretextos para intervenções. Quanto às organizações não governamentais, elas foram instrumentalizadas ao longo de guerras que qualificamos sem hesitação de “morais”…
A Organização das Nações Unidas, que fracassou em diversas situações, não se tornou um instrumento incontestável de segurança coletiva. Mas continua sendo um insubstituível escudo multilateral, que poderá no futuro contribuir para reforçar uma ordem internacional aceita por todos
Para legitimar suas operações militares no Afeganistão, as classes políticas ocidentais – amplamente masculinas – frequentemente carregaram a bandeira do direito das mulheres. Mas essa bela causa escondia preocupações muito menos confessáveis…
Silvio Caccia Bava
A França, que tinha ajudado a armar e a treinar milícias hútus responsáveis pelo massacre de centenas de milhares de tútsis em abril de 1994, era o país mais indicado para liderar uma “missão humanitária” em Ruanda, 2 meses depois?
Comportando-se como a polícia dos Bálcãs, a Otan falava em “libertar” o Kosovo com uma “guerra de valores”. Mas não sem manipulação e mentira, aproveitando a docilidade dos enviados especiais da mídia ocidental…
Ataques “inteligentes” contra o terrorismo “sem fronteiras”, mísseis contra bombas humanas, tanques de assalto contra carros-bomba, política do poder contra estratégia de desgaste: a paz, tanto no Iraque como no Afeganistão, não se ganha no campo de batalha…
Tradicionais “esquecidos” das guerras, os refugiados e deslocados são quase 5 milhões no Iraque desde 2003. A reação internacional, diante desse tipo de crise, não parece muito apropriada. Vizinhos como a Síria acolhem a maioria, mas sua capacidade de gerenciar essas populações tem limite
O exame dos dados referentes às vítimas da guerra em 1991 mostra que as “leis da guerra” não levaram em conta as mudanças na tecnologia militar. A regra da “proporcionalidade” exige que, para proteger os civis, as operações militares tenham o cuidado de poupar a população e os alvos civis
Denunciando em 1109 os ensinamentos do profeta Maomé, Guibert de Nogent definia o princípio da propaganda de guerra. Nada mudou desde então, exceto a época. De Saddam Hussein a Mahmoud Ahmadinejad, um “novo Hitler” substitui o outro
Em um artigo do dia 5 de outubro de 2005, o New York Times elogiou o contingente de antropólogos engajados em uma grande operação para reduzir os ataques contra soldados norte-americanos e afegãos
No início de 2011, a ONU autorizou duas vezes o recurso à força: na Líbia e na Costa do Marfim. Essas decisões excepcionais baseiam-se no reconhecimento recente do “dever dos Estados de proteger as populações civis”. Seriam sintomas da validação de um “direito de ingerência” de geometria variável?
Desafiados em seu próprio território, os Estados Unidos do presidente George W. Bush, concentrados em sua luta contra o “Eixo do Mal”, renunciam ao direito internacional. Com todas as consequências implícitas…