Entre Kiev e Moscou, o desafio nuclear
Os confrontos entre russos e ucranianos em torno da usina de Zaporíjia reviveram o espectro de um desastre nuclear e levaram a Agência Internacional de Energia Atômica a denunciar uma situação “insustentável”. Em seu último livro, o jornalista Marc Endeweld mostra por que a energia nuclear é uma questão tanto energética como estratégica nesse conflito
No dia 11 de setembro de 2022, durante uma conversa telefônica com seu colega francês, o presidente russo, Vladimir Putin, reiterou seu alerta sobre a situação da usina nuclear de Zaporíjia. Maior central nuclear da Europa, a usina fica próxima da cidade de Energodar, às margens do Dnieper, rio que divide neste momento as linhas de frente. No mesmo dia, ficamos sabendo que todos os seis reatores, de mil megawatts cada um, foram desligados. Ao longo de todo o verão, russos e ucranianos transferiram uns aos outros a responsabilidade pelos bombardeios no local e ao redor. Assim, logo após o telefonema entre os dois presidentes, a Rússia denunciou publicamente 26 bombardeios ucranianos na área. A Ucrânia, por sua vez, acusou o adversário de posicionar armas pesadas dentro da usina e de disparar contra a margem oposta do Dnieper, sob controle ucraniano. No início de agosto, o presidente Volodymyr Zelensky ameaçava…