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Gabriel F. das Neves
3 de março de 2024 15:12

Preocupante sinal da qualidade da supervisão editorial da seção online do Diplomatique Brasil que este artigo seja aceito em seu presente estado (acessado em 03/03, às 14h). Não por ser esse desprovido de elementos de interesse – a avaliação da situação militar, em particular, ´e mais detalhada do que em geral se encontra nos meios tradicionais de comunicação -, mas porque o que dele se pode ser aproveitada se perde em meio a um simulacro de análise política que se reduz a indistintamente caracterizar todos os elementos do governo ucraniano como neonazistas.

Não há de se negar que esse governo é de direita e que toma diversas medidas que devem ser consideradas extremamente preocupantes por qualquer pessoa comprometida com causas trabalhistas e progressistas; não é de meu interesse blindar o governo ucraniana – que persegue as forças da esquerda em seu país, implementa um projeto econômico neoliberal, opta por ignorar que a população ucraniana não é um monolito no que tange as relações com UE e Rússia e, com a conivência das potências da OTAN, insiste em uma posição maximalista. No entanto, justamente por ser urgentemente necessário a adoção de uma posição crítica com relação ao conflito e os governos envolvidos, a atitude do autor do artigo não pode ser aceita. Ela obscurece a composição de forças do governo ucraniano e as dinâmicas daí resultantes, obstruindo uma análise adequada à importância da questão sendo tratada. O autor omite qualquer diferenciação interna ao campo da direita ucraniana; notavelmente, ele dá a entender que o Zelenskyy foi um candidato da extrema direita neonazista, o que é patentemente falso, ignora as disputas entre esse setor e o governo ucraniano no início de seu mandato. Isso, por exemplo, impede que se observe como, sem que EUA e UE se opusessem, o governo de Zelenskyy se aliou à extrema direita com a aproximação e decorrer de um conflito com a Rússia. Detalhes como esses não são apenas necessários para uma avaliação minimamente aceitável da atual situação, como evitam que se chegue ao ridículo de, por exemplo, acusar um judeu de ser neonazista como faz o autor (se o o atual governo israelense é evidência indiscutível da compatibilidade entre fascismo e judaísmo, isso não torna menos absurdo a acusação do autor).

No melhor dos casos, o artigo revela uma profunda incapacidade por parte do autor de esmiuçar a conjuntura com o nível de precisão necessária (e condizente com uma publicação como o Diplomatique); no pior do casos, ele é expressão por parte do autor da aceitação do discurso propagandístico russo que justifica a guerra como um esforço antifascista, algo não somente risível em vista dos componentes de extrema direita do próprio governo russo, mas que também põe em cheque as qualificações do autor para avaliar criticamente a situação, visto ser partidário de um dos beligerantes.

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