Na Rússia, a palavra “guerra” não é tabu
Fragilizado por um revés espetacular na região de Kharkiv, Vladimir Putin ordenou em 21 de setembro uma mobilização de reservistas, decisão que provocou protestos em várias cidades do país. O Kremlin, que contava com a perseverança dos russos diante das dificuldades econômicas, assume o risco de descontentá-los, exigindo um custo de sangue ainda maior
“Você é psiquiatra?”, pergunta, com um largo sorriso, Boris Vishnevsky, deputado do Yabloko (oposição liberal) no Parlamento de São Petersburgo. Cruzamos com ele por acaso na rua. Vishnevsky andava apressado para alguma reunião política, enquanto nós tentávamos arrancar declarações, explicando-lhe o objetivo de nossas pesquisas: compreender o estado da opinião pública russa nestes tempos conturbados. Na Rússia, dois institutos de pesquisa dividem a maior parte do mercado: o Centro de Pesquisa da Opinião Pública (VTsIOM), criado pelo sociólogo e cientista político Yuri Levada, mas que o dividiu em dois em 2004, na época de sua nacionalização. Hoje, o VTsIOM representa o braço do Estado, que se esforça para conservar a confiança das autoridades e os contratos que lhe dão a grande mídia e o Kremlin. Enquanto isso, o Centro Analítico Levada, preocupado com sua independência, escolheu voltar-se para uma clientela mais privada e internacional, o que lhe valeu a etiqueta…