No meio da multidão
A partir de junho de 2013, o Brasil passou a conviver com a emergência e o protagonismo de formas inovadoras de mobilização social e ação coletiva que ultrapassam o espectro de influência do Partido dos Trabalhadores. Muitas são as dúvidas sobre essas novas expressões da luta popular: como surgiram, quais seus limitesCristiano Navarro e Luís Brasilino
“Recentemente a UNE e outras entidades tradicionais do movimento estudantil acamparam em frente à Prefeitura de São Paulo. Couberam em vinte barracas. No dia seguinte, o Movimento Passe Livre foi ao mesmo lugar com 10 mil pessoas. Não é muito se lembrarmos dos comícios dos anos 1980, mas o PT não colocaria 10 mil militantes na rua hoje, salvo se trazidos por profissionais para um showmício.” A comparação é de Lincoln Secco, historiador e autor do livro A história do PT. Ele se refere às barracas levantadas na vigília organizada pela União Nacional dos Estudantes (UNE) e pela União Estadual dos Estudantes Secundaristas (UEES) em apoio ao projeto de gratuidade no transporte público do prefeito Fernando Haddad (PT), em contraposição ao Segundo Grande Ato contra o Aumento promovido pelo MPL durante o mês de janeiro.
A partir de junho de 2013, o Brasil passou a conviver com a emergência e o protagonismo de formas inovadoras de mobilização social e ação coletiva que ultrapassam o espectro de influência do Partido dos Trabalhadores, hegemônico nas manifestações de rua progressistas do país desde o início dos anos 1980.
Muitas são as dúvidas sobre essas novas expressões da luta popular: como surgiram, qual é seu perfil e quais são seus limites. Operando por fora das instituições políticas oficiais, além do MPL, notabilizado pela revolta de junho de 2013, outras organizações, como Levante Popular da Juventude, Marcha da Maconha, Frente Independente Popular, Ocupe Estelita, Marcha das Vadias, Território Livre, Massa Crítica, Reaja ou será Morto(a), Mães de Maio, Rede Dois de Outubro, passaram a conquistar seu espaço em debates políticos ao evidenciar realidades antes pouco tratadas, ligadas sobretudo à vida urbana, por meio de ações diretas.
Esse movimento insere o Brasil em um processo global de contestação iniciado a partir dos impactos gerados pela crise econômica de 2008 e que passa pela Primavera Árabe, os diversos Occupies, os Indignados, as manifestações estudantis no Canadá e no Chile, as ocupações da praça grega Syntagma e da turca Taksim, entre outras.
O sociólogo Ruy Braga, autor do livro A política do precariado: do populismo à hegemonia lulista, destaca que em comum os militantes desses países vivem a precarização das condições de vida e do mundo do trabalho. “São jovens, escolarizados, que têm uma trajetória escolar superior à geração que os antecede e que se depara com condições de inserção do mercado de trabalho que geralmente estão bastante aquém daquelas mesmas condições que os pais encontraram no passado. E esse tipo de desajuste, de desencaixe, de tensão é que pode ser considerado a grande força motriz dos atuais movimentos de contestação.”
Há ainda outro fator geracional. O maior acesso a redes de informação e o intercâmbio nas redes sociais ajudam a potencializar diferenças de conceitos políticos entre as gerações. Braga chama atenção para o que alguns analistas denominam choque democrático. “Talvez estejamos assistindo a um choque entre duas culturas políticas que entram em atrito. De um lado essa cultura política mais verticalizada e refratária à participação popular, do cidadão comum e principalmente dos jovens, e por outro lado uma cultura política mais democrática, horizontal, estruturada em torno de redes, que efetivamente tem servido como espaço de mobilização e estruturação de demanda.”
Além do fator econômico, o desencantamento com o sistema político institucional ajuda a compreender a emergência desses novos movimentos. Para João Berkson, militante do Coletivo Juntos (movimento de luta ligado à juventude do Psol) no Ceará, ao negarem o modelo tradicional de fazer política, os novos movimentos sociais passam a resistir ao caminho de cooptação do Estado. “Acredito que esses novos movimentos, ao empoderarem os novos sujeitos políticos e sustentarem que o lugar onde nossas vitórias podem ser alcançadas é na rua, e não nos ‘podres poderes’, ganham a confiança do povo”, afirma.
A marca da independência com relação às instituições tradicionais se soma ao intenso desejo de participação política. Para o sociólogo Leo Vinicius, autor do livro Antes de junho: rebeldia, poder e fazer da juventude autonomista, as mobilizações de rua trazem consigo um claro impulso de negação das representações e mediações políticas, o que se expressa por meio, por exemplo, do rechaço ou da desconfiança em relação a partidos políticos e entidades oficiais de representação. “O desejo de participação. Uma participação não no sentido de ser ouvido ou de dar opinião, mas que é desejo de constituição, que é um poder constituinte, que é desejo de controle da própria vida, que excede e vai contra os limites do instituído”, comenta.
Contra a hierarquia
Essa combinação está fomentando o surgimento de uma diversidade imensa de organizações, estruturadas em coletivos, redes e frentes que vêm sendo chamados de novos movimentos sociais, ou movimentos autônomos (como a maioria costuma se identificar). É possível, inclusive, que existam mais diferenças do que semelhanças entre os militantes dessas organizações. No entanto, podemos apontar um rol de semelhanças e princípios que sustentam essa rede solidária.
Em meio à multiplicidade de pautas, Isabel Loureiro, professora da Unicamp e organizadora de uma antologia de Rosa Luxemburgo publicada pela Editora Unesp em 2011, destaca em comum o fato de estes serem “movimentos de jovens urbanos, caracterizados pela horizontalidade, pela descentralização e independência em relação a partidos, sindicatos, Igrejas, o que impede sua cooptação; dominam as novas mídias, funcionam em rede e têm uma linguagem criativa em comparação com a da esquerda tradicional; muitos se atêm a reivindicações locais; outros têm alcance nacional”.
Ruy Braga faz uma relação das principais características dessa nova dinâmica: “1) mais horizontalizada; 2) autorrepresentada; 3) focada no que podemos chamar de demandas concretas; 4) protagonizada por jovens; 5) [jovens] que se apropriam dos mecanismos de mídia social; 6) jovens que são mais escolarizados do que a geração anterior; 7) a despeito de serem mais escolarizados, têm trajetórias sócio-ocupacionais muito mais erráticas, encontram-se subempregados”.
De fato, a primeira característica elencada por Braga é a mais lembrada quando se trata desses novos movimentos. “A grande fortaleza desses novos movimentos que têm surgido é o seu profundo caráter democrático, ou seja, como são organizados de maneira horizontal, acabam sendo permeáveis e sensíveis à participação popular no sentido amplo. Assim, tendem a, num primeiro momento, se ampliar. Isso é muito positivo porque eles oferecem vazão para aquele estado de inquietação social latente que de outra maneira não se expressaria de forma democrática, e poderia, por exemplo, se expressar de maneira mais violenta por meio de quebra-quebras ou algo do estilo. No entanto, não, esses novos movimentos oferecem a oportunidade de esse estado de inquietação latente que vem se acumulando no país nos últimos 14 anos se expressar de forma democrática.”
No início da noite do dia 23 de janeiro, ao ver o Quarto Grande Ato contra o Aumento da Tarifa passar pela região central de São Paulo, o operador de telemarketing João Paulo dos Santos decidiu atender ao chamado do protesto e foi para a rua contra o aumento. Não demorou muito, ele e os outros cerca de 15 mil manifestantes foram atacados pela Polícia Militar com bombas de estilhaço, de gás e bala de borracha. Morador do bairro de Itaquera, Santos cursa Administração na Universidade Cidade de São Paulo (Unicid) e todos os dias toma cinco conduções entre sua casa, seu trabalho e a faculdade. “Pelo aperto, desconforto e o custo de vida alto, é um absurdo o preço do ônibus e do metrô subir de R$ 3 para R$ 3,50.”
De acordo com Braga, outro segredo do poder de mobilização desses movimentos é essa capacidade de atender a demandas concretas da população. “Elas são críveis para as massas. É possível baixar a tarifa. É possível conquistar a moradia, a casa própria. É possível conquistar uma creche ou uma escola pública na periferia onde ela não existe. Essas vitórias são possíveis”, ilustra.
Ligada a isso, está outra característica, destacada por Armando Boito, professor titular de Ciência Política da Unicamp: trata-se de movimentos reivindicativos, que objetivam melhorias nas condições de vida de setores populares, mas não têm um programa de luta pelo poder de Estado. “Não estou dizendo que esses movimentos estejam fora da política. São movimentos que se explicam pelo contexto político atual e têm repercussão muito grande na conjuntura política, inclusive no processo eleitoral. Porém, não têm, eles próprios, o objetivo de alcançar o poder de Estado.”
Um movimento de jovens
O segundo aspecto mais lembrado a respeito dessas organizações é a presença de jovens. Em seus estudos, o sociólogo Leo Vinicius observa que uma das fontes de poder dos movimentos autônomos se encontra na própria condição material que faz existir o “juvenil” socialmente, isto é, na vivência de um período de maior liberdade e autonomia em relação a alguns imperativos econômicos e sociais. Contudo, “ao mesmo tempo, a juventude é uma fragilidade para movimentos sociais se manterem no tempo, por ser essa uma condição transitória. Utilizando conceitos sociológicos, esse poder tem como base importante a moratória vital e a moratória social que dão forma à juventude”.
Para Guilherme Boulos, coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, a horizontalidade e o uso de ferramentas virtuais é que favorecem esse diálogo com a juventude, “que não tem familiaridade nem interesse por organizações políticas e sociais mais estruturadas. Permitem canalizar um sentimento difuso de insatisfação com a política, para o bem e para o mal. Porque junto com esse sentimento pode vir muita coisa velha, conservadora e direitista”.
De acordo com ele, a principal novidade que surgiu após junho não foi exatamente “novos movimentos”, mas a utilização central das redes sociais como convocatória. “Embora o MPL tivesse um trabalho de base, que foi o que lhe permitiu desencadear as mobilizações de junho, a convocação maciça se deu pelo Facebook. Depois dejunho, várias mobilizações tentaram repetir o modelo e demonstraram tanto seu potencial como seus limites. As ferramentas virtuais passaram a ser hoje indispensáveis para a luta social, mas são insuficientes. Sem o bom e velho trabalho de base, enraizamento territorial contínuo, os movimentos não conseguem sustentar grandes mobilizações.”
Leo Vinicius, no entanto, destaca que a força dos movimentos está também no trabalho de base e nos vínculos sociais concretos constituídos. “Ao contrário da ideologia tão difundida que procura explicar ações coletivas e movimentos sociais com base nas mídias digitais, é a velha militância cara a cara, cotidiana, os vínculos reais que estão por trás de qualquer movimento social. O que essa ideologia das ‘redes sociais’ (virtuais) quer esconder é justamente isso: que as pessoas precisam fortalecer seus vínculos reais se quiserem ter algum poder”, conclui.
Concordando com o sociólogo, Isabel Loureiro indica a ocupação desse espaço pelos movimentos autônomos como parte do seu sucesso. “São movimentos que fazem trabalho de base, que se organizam localmente, algo que o PT fazia antigamente, mas que deixou de lado para virar um partido puramente eleitoreiro. Eles ocupam novos espaços de atuação política, para além da viciada política institucional, que, com razão, é vista com descrédito cada vez maior.”
Qual é o futuro?
Em um horizonte recessivo com indicação de cortes de gastos públicos e elevação de juros e tarifas por parte dos governos, crescem as expectativas sobre intensos conflitos sociais. Na mesma proporção aumenta também a curiosidade sobre os rumos, limites e possibilidades desses novos movimentos sociais na conjuntura de acirramento das tensões.
Isabel Loureiro julga que a esperança que se pode ter nesses movimentos é que, para além das explosões espetaculares, que vêm esporadicamente à tona, sigam na surdina fazendo seu trabalho de base subterrâneo, se reunindo e se organizando. “Ao adotarem a tática da revolta de rua e serem bem-sucedidos, como foi o caso de junho de 2013, eles não deixam receita. São explosões maravilhosas e efêmeras, que incendeiam a imaginação, mas aparentemente não têm continuidade. É como se a cada momento fosse preciso reinventar a roda, o que esperamos ver acontecer novamente em 2015.”
Reticente quanto à possibilidade de um protagonismo maior por parte dos novos movimentos, Armando Boito destaca que eles podem representar um novo ciclo na luta popular por melhores condições de vida e fortalecer os partidos e organizações socialistas, mas reforça que são movimentos “reivindicativos, não lutam pelo poder. Entre eles predomina, inclusive, um desprezo pela organização política e pela luta pelo poder de Estado”. De acordo com ele, o limite é “o culto do espontaneísmo, da luta reivindicativa supostamente separada da organização e da luta política e a sua atitude de desconfiança diante das organizações socialistas e marxistas”. Boito identifica uma falta de consciência política mais desenvolvida, que não deixa perceber que as demandas dos movimentos, para serem atendidas, demandam outra política urbana, econômica e social que exigiria, para ser aplicada, o abandono do modelo capitalista neoliberal.
Guilherme Boulos acrescenta que as virtudes dos movimentos apontam também seus limites. “A horizontalidade é atraente para uma juventude indignada, mas também dificulta uma organização mais consistente a longo prazo, com condições de construir respostas unitárias.” Além disso, ele alerta para o fato de que, apesar do sentimento antipolítica ser mobilizador, ele também pode gerar frankensteins como no pós-junho.
A necessidade de unificar essas lutas em torno de demandas que são sentidas por todos, e não exclusivamente por aqueles que fazem parte desses movimentos, é vista por Ruy Braga como um dos principais obstáculos a serem superados. De acordo com ele, o caminho é descobrir “o que o movimento de luta pelo passe livre tem em comum com a luta dos metroviários por investimento no sistema de metrô, o que o investimento no metrô tem em comum com a luta pela casa própria, o que esta tem em comum com a luta pela creche, o que esta tem em comum com o investimento na escola pública, o que a escola pública tem em comum com os baixos salários… e assim sucessivamente”. No entanto, Braga reitera que, no atual momento, o aspecto positivo desses novos movimentos ultrapassa “em muito” as carências organizativas, “que tendem a se superar ao longo da trajetória de cada um deles”.
*Cristiano Navarro e Luís Brasilino são editores do Le Monde Diplomatique Brasil.
BOX
O FIM DO CICLO PT?
Com o surgimento de novos atores atuando como protagonistas no campo político dos movimentos sociais, levanta-se uma questão: estaria se iniciando um novo ciclo da esquerda brasileira?
Na opinião do coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos, o início do esgotamento do ciclo PT se dá com a substituição da mobilização de rua pela disputa institucional e parlamentar. “Esse ciclo vai à falência junto com o sistema político brasileiro. O novo, que lentamente começa a ser gerado nos movimentos, implica a retomada da luta direta como aspecto essencial.” Boulos acredita que o MTST, ao mesmo tempo que procura manter o que considera positivo das organizações populares geradas nos anos 1980, como o trabalho de base, também faz parte desse novo ciclo da esquerda, na medida em que “critica frontalmente o ciclo petista, seu governo social-conservador e a opção pela institucionalidade”.
Entusiasta desse novo momento, João Berkson, militante do Juntos, enxerga na situação brasileira semelhanças com os rumos apontados na Europa pelos partidos espanhol Podemos e grego Syriza, frutos de mobilizações da juventude. “Na Espanha e na Grécia, o processo de crise humanitária acelerou o processo. Aqui no Brasil vejo embriões se desenvolvendo; o levante de junho não foi à toa, elevou ao caráter de protagonistas novos atores enquanto acelerou o processo de descrédito dos velhos modelos.”
Para Ruy Braga, a burocratização da militância petista e o distanciamento de suas origens dificultam a renovação de quadros políticos e a aproximação com os movimentos de juventude. “Sem dúvida nenhuma essa nova geração não conheceu o PT que não seja o PT do governo, ou seja, não fizeram parte, não têm a memória social do PT dos movimentos sociais, do movimento sindical combativo, das lutas por moradia, do partido que impulsionou a luta pela reforma agrária, que foi a força mais dinâmica e radical da Constituinte brasileira e que efetivamente enfrentou a ditadura e acelerou seu fim… Eles não conhecem nada disso. O que eles conhecem é o PT do mainstream. É o PT burocratizado, é o PT dos governos, é o PT que é refratário fundamentalmente a essa participação popular que vem de baixo, aquilo que eu costumo chamar de pulsão plebeia, ou seja, aquele impulso popular que vem de baixo e tem no horizonte da afirmação dos direitos o seu horizonte prioritário.”
O historiador Lincoln Secco acredita que, independentemente do fim do ciclo petista ou de esses novos movimentos e coletivos permanecerem como protagonistas do cenário político, sua forma de fazer política deve continuar. “Diria que deve demorar a ter impacto na política institucional, embora já tenha tido algum. Mas, quando o PT surgiu em 1980, quem diria que ele seria o principal partido brasileiro? Levou quase vinte anos!”
Sem estabelecer os limites do fim e do início de um ciclo para a esquerda, o sociólogo Leo Vinicius observa que os novos movimentos têm ganhado força, relevância e visibilidade no cenário político há cerca de quinze anos. Assim como Boulos, Vinicius credita esse crescimento, em parte, “ao vácuo deixado por militantes e entidades ligadas ao projeto de governo do PT, que deixaram a organização de base e a luta social de lado”.
Já Isabel Loureiro destaca que análises feitas por integrantes dos movimentos sociais tradicionais, com as quais os jovens concordam, constatam que o ciclo do PT se encerrou. “E, por tabela, os movimentos alinhados ao PT correm o risco de sofrer o mesmo destino, a não ser que se renovem”, alerta. Para ela, isso significa dizer que as políticas de inclusão social e o pacto entre os mais pobres e os mais ricos – em que, por meio dos programas de transferência de renda, do aumento do salário mínimo, do crédito, supostamente todos ganham – se esgotaram. Em seu entendimento, a luta neste momento é para impedir que direitos básicos sejam totalmente mercantilizados. “Esses novos movimentos pensam para além do ‘neodesenvolvimentismo’ do PT, lutam por direitos, por liberdade e por democracia sem adjetivos; em suma, lutam contra o que, numa ótima expressão, chamam de ‘catracalização da vida’. Essa é uma pauta que pode alargar o horizonte do possível e dar algum fôlego à esquerda numa época em que o país se encontra mergulhado na mais gigantesca mediocridade política e cultural. Temo que, se esses movimentos não conseguirem fazer recuar a grande e crescente maré conservadora, correremos o risco de morrer afogados nela.” (C.N. e L.B.)
Cristiano Navarro e Luís Brasilino são editores do Le Monde Diplomatique Brasil.