O afeto como política para a construção de outros mundos
A mesma perspectiva que embasou o colonialismo – de estupros, assassinatos, destruição da natureza, roubos e apagamento de memórias – perdura até hoje. Essa perspectiva corrobora a repetição de um modo de vida e produção que a médio e longo prazos não significam outra coisa senão a morte – e coletiva. É o esgotamento como premissa
Enquanto começo a escrever este texto enxugo as lágrimas por ter acabado de ler outros escritos e escutado mulheres negras que me afetaram. Aliás, tenho chorado muito, mais do que o esperado. Sinto que passamos os últimos quatro anos de governo pautado na miserabilidade de forma até meio anestesiada, sendo bombardeadas com notícias tão terríveis de todos os lados que a indignação já se enferrujava um pouco; estar incrédula virou a norma e não sobrava espaço para grandes ações. A sensação de viver tempos de asfixia social e literal nos cercava. Meu choro dos últimos dias parece desaguar do peito um misto de sensações. Fala da tristeza de saber, em uma passagem pelo Rio acompanhando a Festa Literária das Periferias na Maré, que uma chacina vitimou catorze pessoas em favelas da cidade; fala do pranto soluçado ao ler o livro de memórias que Anielle Franco escreveu à irmã Marielle relatando…