Maternidade e cuidado: uma jornada de trabalho sem fim
Do ponto de vista de duas mulheres negras como nós, que são mães solo desde a adolescência, a roda do cuidado foi evidenciada desde muito cedo
Do ponto de vista de duas mulheres negras como nós, que são mães solo desde a adolescência, a roda do cuidado foi evidenciada desde muito cedo
Supor que há uma afinidade maior entre as mulheres e o cuidado é um dos grandes engodos que buscam essencializar os trabalhos domésticos e de cuidado, a ponto de os julgarem como naturalmente femininos
O cuidado com o outro é tratado como algo subalterno, sem valor. Apesar de o mundo não funcionar sem esse tipo de trabalho. Em muitos casos, o labor das mulheres não passa de servidão seja na intimidade de suas famílias ou junto das famílias dos empregadores
Cuidar é o oposto de desrespeitar, humilhar e desautorizar. Se Lula quer ultrapassar a retórica hobbesiana sem depender do humanismo cirandeiro, precisa mostrar como políticas públicas geram respeito, evitar vender sustos de desenvolvimento que se transformam em humilhação social e reverter o exercício do poder encarcerador em autoridade simbólica minimamente libertária
Em entrevista, a deputada federal eleita Sônia Guajajara (Psol-SP) comenta as expectativas com o novo governo, analisa o legado deixado pela gestão anterior e destaca a agenda de lutas dos povos indígenas e o papel dos movimentos sociais na construção de uma sociedade que valorize a vida, o meio ambiente e as pessoas
Em tese, estamos todos de acordo que os programas de governo se baseiem em fortalecer a cidadania e a democracia. Mas nem todos concordam, na prática, que essa é uma via de mão dupla. Se o governo deve, por obrigação, cuidar da população, esta também precisa cuidar do governo escolhido pelo voto da maioria
A mesma perspectiva que embasou o colonialismo – de estupros, assassinatos, destruição da natureza, roubos e apagamento de memórias – perdura até hoje. Essa perspectiva corrobora a repetição de um modo de vida e produção que a médio e longo prazos não significam outra coisa senão a morte – e coletiva. É o esgotamento como premissa
Entre a análise do país como está, as expectativas para o próximo governo Lula e os prognósticos apocalípticos que se tornaram corriqueiros, o que seria uma sociedade voltada aos cuidados vista dos lugares mais violentados pela falta deles?
A gestão da crise sanitária apoia-se na obrigação de cada um se proteger e proteger os demais, especialmente os “mais vulneráveis”. O governo francês apela ao altruísmo e, em caso de negligência, a punições. Mas esse chamado à responsabilidade revela uma incitação virtuosa ou um empreendimento de redefinição do cidadão?