O choque elétrico europeu
A crise energética resultante das sanções ocidentais contra a Rússia não só corroeu o poder de compra dos europeus, como também enfraqueceu o Velho Continente. Ela ilumina o fracasso da liberalização do mercado da eletricidade na França e, sobretudo, a obstinação dos vários governos em manter essa política a qualquer custo
“O mercado europeu dá a impressão de estar no fim de um modelo construído há 25 anos.” O autor dessa frase não tem carteirinha do partido de esquerda France Insoumise nem é membro do contestador sindicato Sud Énergie. CEO da Électricité de France (EDF) de 2014 até recentemente, Jean-Bernard Lévy dirigiu diversas multinacionais do CAC 40 [grupo das quarenta maiores empresas cotadas em Bolsa na França]: Vivendi, Thalès... Em sua última audiência na Assembleia Nacional, em 14 de setembro, o distinto politécnico enterrou – talvez precipitadamente – a liberalização do mercado da eletricidade. Programada desde o Ato Único Europeu de 1986 e iniciada a partir de 1996, a destruição dogmática dos monopólios públicos, organizada com veemência em nome da Santa Concorrência pela Comissão Europeia com a cumplicidade dos governos nacionais, deveria trazer eficiência, inovação e preços baixos. Conforme anunciado pelos raros analistas que tinham desenvolvido imunidade ao sectarismo liberal, o…