O golpe permanente
Só se passaram 20 anos desde a queda de Stroessner. Mas quando se anda por Assunção, parece que a ditadura nunca existiu. Com exceção de um modesto museu, não há nenhuma lembrança dos detidos e torturados. Os políticos, dos quais um bom número é oriundo do “antigo regime”, se calam, assim como a mídia
No centro de Assunção, a capital do Paraguai, no número 710 da rua Chile, entre dois altos prédios administrativos, está uma pequena casa colonial térrea com grades nas janelas. No muro de entrada, uma pequena placa dourada: “Museo de la memoria” (Museu da memória). No interior, incontáveis fotos ilustram os anos de chumbo da ditadura de extrema-direita do general Alfredo Stroessner (1954-1989), uma das mais brutais do continente. Aberto em 2006, esse é um dos locais daquela que foi a terrível “Escola Técnica” por onde passaram cerca de dez mil vítimas. “Ao todo, me prenderam 19 vezes”, conta Waldimiro Valois Cabañas, 88 anos. “De todas as prisões que eu conheci, este lugar foi o mais horrível. Eu me lembro do delegado Alejandro Schreiber, um autêntico nazista.” Ereto e digno, Cabañas foi ao museu a fim de conseguir uma reparação financeira. “Eu copiei todas as informações relativas ao meu irmão e a…