O “ouro líquido” de Trump dá sinais de sentença de morte para o planeta
A luta pela causa climática vinda dos países “ricos monetariamente” é decepcionante (em maior ou menor grau) apresentava e metas um pouco ambiciosas, em descompasso com a realidade dos desastres que, dia após dia, impactam as vidas dos seres humanos e de outros seres vivos
É assustadora a defesa de Trump por mais exploração de petróleo e gás natural no mesmo momento em que as organizações meteorológicas anunciam 2024 como o ano mais quente da história. Pior ainda, quando é atestado que já ultrapassamos o marco de 1,5°C de aquecimento, considerado o limite seguro para a vida na Terra. A luta pela causa climática vinda dos países “ricos monetariamente” é decepcionante (em maior ou menor grau) e já foram apresentadas metas pouco ambiciosas, em descompasso com a realidade dos desastres que, dia após dia, impactam as vidas dos seres humanos e de outros seres vivos. Agora, somado a isso, temos o negacionismo escancarado do atual presidente dos Estados Unidos, que coloca em xeque as vidas que hoje coexistem no planeta.

Dentre outras indignações em relação às prioridades de Donald Trump no seu primeiro dia de governo, a retirada do país do Acordo de Paris e da Convenção-Quadro da ONU sobre Mudança do Clima (UNFCCC), além de ser assustadora, pode também nos trazer uma oportunidade de priorizar uma agenda climática urgente e enfrentar o negacionismo.
A postura negacionista de Donald Trump, à frente da maior potência mundial, é devastadora para o mundo todo, pois ela vem associada ao desmonte dos órgãos técnicos e científicos que lidam com a questão climática. As taxas de emissões per capita do país é o dobro da chinesa e oito vezes maior que a da Índia, de acordo com os dados do instituto de pesquisa World Resources Institute (WRI), referentes ao ano de 2022. O país de Trump é o maior emissor histórico de CO2. Em 2005, a China saltou para a primeira posição, liderança que mantém até o momento. Tal desmonte tem forte influência no regime multilateral para o clima, uma colaboração global construída artesanalmente nas últimas décadas, e prejudica a implementação – ainda frágil – do Acordo de Paris e de outros importantes mecanismos de financiamento climático, como a compensação por perdas e danos, os créditos de carbono e outras conquistas que precisam entrar em ação.
De modo geral, a eleição de Trump pode influenciar as metas de financiamento e as NDCs (metas climáticas dos países) para a regulação das emissões. No entanto, as alianças e a cooperação, estratégias da luta decolonialista que os países do Sul Global defendem em coro, seguem fortes e ganhando escala, dando sinais de que ‘a saída’ não deve interferir nas metas globais, uma vez que o país nunca esteve comprometido com o acordo. Pelo contrário, sempre se posicionou a favor de emperrar a agenda climática já pouco ambiciosa nas negociações multilaterais do clima (em 1992, ameaçaram não assinar a Convenção do Clima e implodiram o Protocolo de Kyoto em 2001).
Assistimos, então, a um posicionamento ativo frente à crise climática crescer com força no Sul Global e não será a gestão negacionista desse atual governo norte-americano, posicionado ao lado de países como o Irã, a Líbia e o Iêmen (todos não signatários do Acordo de Paris), que irá impedir que a comunidade global ganhe escala e força.
O Brasil, protagonista em 1992, vem se reposicionando no compromisso de destravar negociações. Neste ano, temos a oportunidade de fazer melhor e atingir resultados tangíveis a partir da realização da COP 30 em solo brasileiro. A luta a favor das florestas e das comunidades tradicionais e povos indígenas que a protegem ganha, dia após dia, novas alianças e reconhecimento na agenda climática mundial. Diferentemente da visão bairrista de proteção à economia verberada por Trump, a reivindicação por justiça ambiental e climática, bebe da compreensão de relações de dependência entre todos os seres vivos.
O fato é que com a saída do Acordo de Paris de Trump e sua trupe no poder, os Estados Unidos perdem influência política e econômica, por não estarem integrando os espaços das negociações, abrindo espaço para maior comprometimento dos demais países signatários do Acordo, apresentando-se como oportunidade para recolocar a agenda climática nos trilhos.
Semíramis Biasoli é Secretária Geral do FunBEA – Fundo para Ação Climática.