Sede de reformas na América Latina
Ex-presidente da Colômbia e ex-secretário-geral da Unasul, Ernesto Samper desenha um quadro sombrio das políticas colocadas em prática na América Latina nas últimas décadas. Após a crise sanitária, que expôs a falência do neoliberalismo, a via do progresso passa cada vez mais pela integração regional
Quando a Covid-19 desembarcou na América Latina, a região estava completamente indefesa. O vírus se deparou com sistemas de saúde privatizados e hospitais públicos subfinanciados, consequência da volta de governantes neoliberais ao poder desde meados dos anos 2010. A pesquisa e o desenvolvimento, totalmente negligenciados, recebiam apenas 0,8% do PIB, ou seja, três vezes menos do que os países da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE). Como era de esperar, o vírus fez mais estragos aqui do que no resto do mundo: apesar de a população equivaler a 9% da mundial, a região concentrava 20% das infecções causadas pelo coronavírus e 30% das mortes por Covid-19 no fim de outubro de 2021.1 Nesse período, as políticas que preconizam a retirada do Estado dos processos sociais e políticos – relacionadas aos serviços de interesse geral, como saúde, habitação, alimentação e acesso a água – mostraram o que são:…