Sobre flores e pedras
O que fazer após o afastamento da presidenta Dilma Rousseff, concretizado no dia 12 de maio? O Le Monde Diplomatique Brasil convidou pensadores e lutadores sociais de diversos matizes para debater como lidar com a crise e trabalhar com certos elementos, como a guerra das ideias, as eleições municipais de outubro e a orManuela d’Ávila
Toda vez que vejo uma flor nascer entre as pedras, penso que até em situações extremamente adversas é possível florescer. De que foi golpe o afastamento de Dilma não há dúvida. Após a divulgação das conversas conspiratórias de Romero Jucá, que esmiúçam a lógica do golpe, só não o reconhece quem está diretamente vinculado a ele. Mas, entre essas pedras, qual flor podemos esperar brotar? Um movimento social mais vigoroso, capaz de trazer novos resultados.
São artistas, jovens feministas, estudantes que ocupam escolas, trabalhadores – associados aos movimentos que historicamente lutam por conquistas – que estão mobilizados contra essa onda que, além de neoliberal, é essencialmente conservadora. O que ocorreu com Dilma desengasgou parte da sociedade, que não admite, por exemplo, que um governo seja montado sem mulheres e vê a democracia ameaçada quando observa o descaso do “novo governo” com suas lutas históricas. O movimento estudantil ou o próprio movimento feminista não são novos. O que é novo é o volume político que esses grupos ganharam. Nas escolas ocupadas, com a força dos pais que apoiam o movimento, por exemplo. No movimento feminista, com a adesão de mulheres de diferentes perfis, meninas jovens que desde cedo lutam contra o machismo culturalmente arraigado em nossa sociedade.
Essas pessoas que formam esses novos movimentos são a base para a repactuação da volta de Dilma. Por isso, defendemos que, ao voltar, Dilma convoque plebiscito. Que as eleições municipais sejam palco para consultar os eleitores da possibilidade de novas eleições presidenciais. Seria a possibilidade de repactuação com a sociedade brasileira, numa perspectiva ainda mais progressista e democrática. É com essas pessoas que contaremos para estancar essa que foi a mais brusca guinada ideológica de direita desde que Castelo Branco vestiu a faixa em 1964. Afinal, as conquistas populares são dessas flores que nascem em meio às pedras.
Manuela d’Ávila é deputada estadual (PCdoB-RS).