O aborto que não fiz e a liberdade de decidir
Argumentos de caráter religioso são importantes apenas e somente para aquelas pessoas e grupos para quem a religião orienta decisões
Argumentos de caráter religioso são importantes apenas e somente para aquelas pessoas e grupos para quem a religião orienta decisões
É muito comum associar o aborto ou a necessidade de interromper uma gestação com atos de irresponsabilidade, geralmente vinculados a comportamentos femininos considerados inadequados. Paralelamente, os homens são eximidos de sua parcela de relevância, e o ônus recai de forma intensa sobre as mulheres
As experiências aborteiras no território da América Latina constituem a ponta de lança do enfrentamento às estratégias familistas patriarcais neoconservadoras, pois subvertem essas montagens das políticas de corpos através de possibilidades de trajetórias múltiplas e emancipatórias
Por trás da fachada moderna e do impulso das novas tecnologias, a Coreia do Sul permanece uma sociedade muito machista, onde as mulheres devem ser devotas à sua família. Entretanto, em outubro, o governo apresentou um projeto de lei que autoriza o aborto, uma proposta que as feministas julgam muito tímida, enquanto as jovens militantes preparam a revolta
A cultura do estupro é, em termos gerais, a banalização e normalização desse crime pela sociedade que compactua e estimula essa cultura de diversas maneiras, por exemplo, quando objetifica as mulheres nos meios de comunicação
O horizonte é de mais mulheres mortas em decorrência de abortos clandestinos, mais mulheres encarceradas, mais mulheres em risco de vida, mais mulheres adoecidas. Trata-se de uma conjuntura catastrófica, mas não exatamente uma surpresa para as militantes feministas. Há pelo menos dez anos, os movimentos vêm denunciando os riscos do avanço do fundamentalismo na sociedade e sua expressão dentro do Estado, especialmente no Poder Legislativo.
Diante da mobilização maciça das polonesas em outubro, o partido Direito e Justiça (PiS), atualmente no poder, renunciou ao projeto de estender a proibição do aborto aos casos de estupro e má-formação. A Polônia já tinha anulado a liberdade de escolha em 1993.
Respeitando uma promessa eleitoral da presidenta Michelle Bachelet, o Chile se prepara para descriminalizar o aborto em caso de risco de vida para a mãe, má-formação do bebê ou estupro. Contudo, se por um lado contempla as situações mais dramáticas, por outro a lei mantém na clandestinidade de milhares de mulheresJulia Pascual e Leila Miñano
Depoimento de Sylvie Rosenberg-Reiner, médica e militante pelo direito ao aborto e pelos direitos da criança, morreu em julho de 2014.Sylvie Rosenberg-Reiner
Com o triunfo republicano nas eleições legislativas de 2010, os militantes contra o aborto retomaram o controle. Sua tática consiste em aprovar em cada estado da Federação leis mais e mais restritivas ao direito de interromper a gravidez, tornando seu exercício quase impossível. A última trincheira: a Suprema CorteJessica Gourdon
Temos pouco contato com a realidade das mulheres nos outros países, em especial na Ásia e na África, mas a verdade é que a reivindicação de mais liberdade e condições igualitárias perpassa povos e credos e cresce junto com a ocupação cada vez maior do espaço públicoCamille Sarret
Acabava de ser sancionada a lei sobre o matrimônio civil homossexual na Argentina quando, no Ministério da Saúde, começou-se a debater a legalização do aborto e suas contradições. Até o final do ano, dois projetos sobre interrupção voluntária da gravidez serão analisados no CongressoMarta Vassallo
No campo dos direitos reprodutivos, enfrentamos uma situação grave: de um lado, está uma parte da sociedade e do governo sensível ao sofrimento de milhares de mulheres obrigadas a recorrer a abortos clandestinos; e de outro lado, setores religiosos fundamentalistas que atuam em nome de uma defesa abstrata da vida
Ninguém duvida que a interrupção voluntária da gravidez constitui uma dolorosa e até mesmo trágica opção. Mais trágico, porém, é constatar que sob o véu de cruzadas conservadoras pelo “direito à vida” se ocultam em todo o mundo, práticas terríveis como os abortos clandestinos, o abandono de crianças e o infanticídio