A burocracia, coitada, é mesmo a última a saber?
Como a disputa pela Procuradoria-Geral da República ilustra o desmonte de um processo de fortalecimento institucional do Brasil
Como a disputa pela Procuradoria-Geral da República ilustra o desmonte de um processo de fortalecimento institucional do Brasil
A existência de uma cultura política fraca e de instituições políticas pouco sólidas, criando um clima muito favorável para a desqualificação e a criminalização da política em geral e para a construção de uma opinião pública muito suscetível ao moralismo e desejosa menos de justiça e mais de justiçamentos e linchamentos.
Não há como não seguir a trilha da chamada “conspiração”, que culminou com a ruptura institucional e a mudança do governo brasileiro. E nossa hipótese preliminar é que a história desta conspiração começou na primeira década do século XXI, durante o “mandarinato” do vice-presidente americano, Dick Cheney, apesar de que ela tenha adquirido uma outra direção e velocidade a partir da posse de Donald Trump, e da formulação da sua nova “estratégia de segurança nacional”, em dezembro de 2017.
Primeiro texto da série especial Mídia e Justiça – que irá abordar a relação entre o Judiciário e os Meios de Comunicação em tempos de #Vazajato.
Tão logo foram divulgadas as primeiras reportagens do The Intercept sobre o escândalo da Vaza Jato, Matthew Stephenson escreveu um texto avaliando que o Procurador da República Deltan Dallagnol teria sido ingênuo ao manter conversas com o então juiz Moro. Moro, por sua vez, teria cometido erros graves e inescusáveis. No novo texto, citado por Moro na sessão do Senado, o acadêmico de Harvard revia sua posição inicial em relação a Moro e considerava que a Vaza Jato era um “escândalo que encolheu”.
Agora, com as informações reveladas pelo The Intercept, em quatro matérias que revelam os bastidores das relações entre os procuradores federais envolvidos na Lava Jato e também o ex-juiz Sergio Moro, atual Ministro da Justiça e Segurança Pública, tudo faz sentido: os agentes jurídico-judiciais envolvidos com atos ilícitos são os próprios que conduziram a operação Lava Jato.
O modelo de golpe aplicado no Brasil, complexo e sofisticadamente maleável, talvez já tenha sido transformado em manual para ser levado a outros países, tal como as fórmulas desenvolvidas para as revoluções coloridas e para os golpes em Honduras e Paraguai foram aqui utilizados. A grande pergunta é até onde o capitalismo poderá conduzir processos assim, para enfrentar o esgotamento de seu modo de produção?
Uma das características do Estado totalitário é o uso do sistema legal para eliminar opositores políticos, e o pano de fundo desse processo, aqui no Brasil, não é o particular sistema de justiça utilizado por uma instância inferior na Operação Lava-Jato, é o Poder Judiciário em sua instância superior.
O papel do Judiciário na canalização das disputas e a crença disseminada de que os tribunais são capazes, em algum grau, de aplicar a lei tal como ela está formulada fazem nascer uma sensação de abandono quando deparamos com uma situação de arbitrariedade judicial indisfarçada. A quem vamos recorrer, quando até a Justiça é injusta?
Na época das mentiras transformadas em “pós-verdades”, era previsível que a condenação de Lula tivesse caráter mais narrativo do que propriamente jurídico. O regime da versão dos fatos é fechado na subjetividade, basta por si, enquanto o regime do factual é aberto ao escrutínio público e à contestação.
Desde 2014 o Brasil vive no ritmo das revelações em torno de um escândalo de corrupção sem precedentes. Depois de Dilma Rousseff ser destituída de forma fraudulenta em 2016, agora pode ser a vez do atual presidente, Michel Temer, cuja culpa já não deixa mais dúvidas. No centro desses negócios, o grupo Odebrecht
A demolição do edifício político abriu espaço para tentações fascistas. Entre o velho que se dissolveu e o novo que ainda não se impôs emergiram formas mórbidas, como diria Gramsci. Pela primeira vez na história brasileira uma candidatura fascista apresentou altos índices de intenção de voto em 2017