A Ucrânia e seus falsos amigos
Referendo nas regiões ocupadas, nuclearização, mobilização parcial: a Rússia optou pela escalada diante das contraofensivas ucranianas realizadas com armas ocidentais. Cobeligerantes de facto, alguns Estados da União Europeia estão concretizando um projeto antigo: ancorar a Ucrânia no Ocidente e torná-la um laboratório para reduzir o custo do trabalho na vizinhança
Assim como as dores nas costas e as condições meteorológicas, “o fim da globalização” é um tema sempre pronto para usar e volta e meia reaparece na imprensa. Ensaístas e jornalistas já fizeram o funeral da liberalização global após os ataques de 11 de setembro de 2001, durante a crise financeira de 2008 e de novo na crise do euro, em meados da década de 2010. Com o caos mundial das cadeias de abastecimento decorrente das políticas anti-Covid, o aumento das tensões entre China e Estados Unidos, a guerra na Ucrânia e a crise energética, chegou a hora de mais uma autópsia. Em 2022, o nome do legista encarregado é Larry Flink, CEO do fundo de investimento BlackRock. “A invasão russa pôs fim à globalização que conhecemos há três décadas”, escreveu em 24 de março em sua carta anual aos acionistas. Foi o que bastou para provocar uma enxurrada internacional…