“A ditadura me formou na carne e mudou a minha vida”
Em entrevista, Marieta Severo compara regime militar ao governo Bolsonaro e diz que sociedade brasileira deve evoluir politicamente para não eleger políticos autoritários
Em entrevista, Marieta Severo compara regime militar ao governo Bolsonaro e diz que sociedade brasileira deve evoluir politicamente para não eleger políticos autoritários
As pessoas que deixaram de apoiar Jair Bolsonaro tendem a dizer que não viram entrega de resultados pelo mandatário tanto no combate ao crime e à corrupção quanto no avanço da economia. Mesmo entre os religiosos, começa-se a questionar o coração cristão do presidente diante de atitudes e manifestações vistas como sem compaixão
A decisão sobre o apagamento de fake news na pandemia parte do pressuposto de que se trata de armas contra a saúde pública, o que é verdade. Entretanto, não adianta nada destruir as armas de um crime se elas são a maior prova da sua ocorrência
É preciso tomar medidas urgentes para amenizar o custo de vida da população. Para onde se olha, somos surpreendidos por aumentos sucessivos, o gás de cozinha acumula alta de 66% e se consolida como vilão do orçamento de famílias mais pobres
Apesar de sua reduzida margem de manobra, Bolsonaro vai tentar um golpe. Não se trataria de um golpe militar clássico. A expectativa dele é que os militares possam cruzar os braços em caso de uma tentativa de golpe por PMs, milícias, seguranças privadas. Além do “risco Capitólio”, é bom não ignorar o “risco Bolívia”
Até agora se havia evitado ganhar as ruas para protestar e pedir o impeachment de Bolsonaro em função da severidade da pandemia, mas também de cálculos eleitorais velados. Os jovens puxaram, enfim, a luta. Já vacinados, os mais velhos se juntam a eles. Não há tarefa neste momento mais importante do que ampliar esses protestos e exigir a saída do presidente
Quatro cenários para o próximo período: impeachment do presidente; virada ou volta por cima do governo, criando as condições para viabilizar a reeleição; ruptura, em que o governo, pressentindo a derrota eleitoral, retoma o discurso da campanha e rompe com o Centrão; e derrota nas eleições e recusa de Bolsonaro em aceitar o resultado das urnas
Não é nem preciso recorrer à mamadeira fake das últimas eleições para presidente, em 2018, para perceber que tudo passa pelo ânus presidencial. “Caguei”. O país se tornou a privada presidencial
O novo padrão de acumulação brasileiro tem reforçado o poder econômico e político dos segmentos primários, intensivos em commodities, e bancário-financeiro, abrindo espaços para a intensificação da exploração dos recursos naturais e da força de trabalho
Temos tido, no último ano, um aprofundamento da militarização e sucessivos “eventos testes” de Bolsonaro na radicalização do seu controle sobre as Forças Armadas. Nessa construção, que ainda possui inúmeras indefinições de como se concluirá, o general Pazuello tem tido um papel que merece uma análise mais acurada
O governo Bolsonaro vive um momento de desgastes – de redução de sua base de sustentação social, de distanciamento de alguns setores militares, de quebra de alianças com igrejas evangélicas, de derrotas no Congresso, de maiores riscos de criminalização pela CPI da Covid – que demonstram a fragilidade de sua sustentação social e política.
Atravessamos a marca de mais de 3 mil mortos por dia e a pergunta sobre o traço autoritário do neoliberalismo ganha uma escandalosa atualidade. Ele se faz, hoje, em um quadro político grave de produção de normas que dispõem sobre a pandemia de Covid-19 e que indicam, fortemente, a presença de uma estratégia institucional de disseminação da infecção viral, em nome da decisão política do governo, de priorizar a proteção econômica