Kelefa Sanneh: “Nada é óbvio no mundo da música”
O jornalista da The New Yorker, convidado da Flip deste ano, escreve história da música pop focando nas comunidades criadas em volta dos gêneros musicais
Kelefa Sanneh, autor convidado da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty) deste ano e jornalista da revista The New Yorker, escreveu um livro sobre as comunidades que construímos em volta da música. “Na Trilha do Pop”, publicado pela editora Todavia, é, nas palavras do autor, “um livro genérico”. A obra de fôlego, fruto de pesquisa extensa e uma vida pensando sobre música, não tem nada de genérica no sentido mais comum da palavra, com uma escrita engraçada, inteligente e que faz as quase 500 páginas voarem. Porém, é um livro sobre gêneros musicais, e, nesse sentido, “genérico”, dividido em capítulos sobre rock, punk, pop, hip-hop, dance, R&B e country.
Apesar do foco nos Estados Unidos e na Inglaterra, as tendências que Kelefa observa se refletem na história da música popular brasileira, como a forte relação entre gêneros musicais e raça. Gosto musical, mais do que preferência de entretenimento, também é identidade social. Filho de imigrantes professores da Universidade de Yale, o jornalista e crítico musical nasceu na Inglaterra, morando em Gana e na Escócia até chegar aos Estados Unidos quando tinha 5 anos de idade, onde mora até hoje. Por todos os lugares que passou, a importância da música para os grupos continuava forte.
“Na Trilha do Pop” trata de meio século de música pop, mostrando como as bandas e os artistas ajudam a entender a política, a sociedade e a forma como as pessoas se organizam em comunidades. Como Kelefa escreve sobre o punk, os gêneros “representam o desejo humano universal de ser um pouco menos universal — de separar o que você gosta do que as outras pessoas gostam, seja lá o que for”.
Como um reflexo da sociedade em que é produzida, a música pop também expõe as contradições sociais mais profundas. Gêneros criados por artistas negros, como o R&B e o hip-hop, viveram uma espécie de segregação no campo cultural, mostrando a realidade segregada dos Estados Unidos, mesmo depois de Martin Luther King e Malcolm X. Música é entretenimento, mas também ajuda a entender como nossas sociedades funcionam e como queremos viver. Por isso, a leitura do livro de Kelefa Sanneh é essencial não só para fãs de música, mas para todos que se interessam pela vida em sociedade no século XXI.
Confira a entrevista do Le Monde Diplomatique Brasil com Kelefa Sanneh antes da Flip. Ele falou de forma apaixonada sobre a relação entre música e política, o futuro da crítica musical e contou quem é seu MC de funk carioca favorito.

Seu livro é construído em cima de algo que os artistas normalmente não gostam de falar sobre: gêneros musicais. Por que você escolheu escrever sobre gêneros? E por que importa tanto separar e diferenciar que tipo de música nós gostamos?
Eu tinha duas razões principais para escrever o livro desse jeito. Uma delas era que, para contar essa grande história da música, eu precisava que o material fosse um pouco mais gerenciável. Então, focando em gêneros, cada um poderia ser um capítulo, e cada capítulo poderia contar a história da evolução dessa comunidade. Então, uma parte disso era contar essa história de forma que parecesse mais como uma série de histórias.
Minha outra razão era exatamente essa que você menciona na sua pergunta. Os músicos odeiam falar sobre gêneros. Algumas vezes, pessoas na minha linha de trabalho agem como se gêneros fossem uma coisa ruim, limitante. E, se um músico é esperto de verdade, ele transcenderia o gênero, e isso é teoricamente melhor do que trabalhar em só um tipo de música.
Eu sou um pouco cético em relação a essa ideia. Um gênero musical é uma comunidade, de ouvintes e de músicos. Se você pensa dessa forma, fica um pouco mais fácil de entender porque eles são úteis e porque eles não vão embora. Gêneros e comunidades podem ser irritantes, mas todos nós buscamos comunidades e gostamos da ideia de estarmos ao lado de pessoas que pensam como nós. Por isso, eu acho que gêneros são tremendamente importantes para a música, já que ela é uma forma de arte tão social.
Vários ouvintes dizem “ah, eu gosto de todos os tipos de música”. Eu sou desse jeito, e acho isso ótimo. Mas eu acho importante reconhecer que nós não teríamos todos esses gêneros diferentes se não fossem algumas pessoas, músicos e ouvintes, que estão vivendo dentro de um gênero. É assim que conseguimos o death metal, as slow jams do R&B, a música country bluegrass.
Uma das grandes ideias que eu queria transmitir com o livro era que, para criar uma comunidade, você precisa ter uma maneira de incluir e excluir algumas pessoas. Sem isso, você vai ter uma comunidade de 8 bilhões de seres humanos, e isso não parece muito com uma comunidade. Em diferentes momentos, todo gênero musical é inclusivo e exclusivo.
Ao ler o livro, você percebe que há momentos em que as pessoas brigam sobre quem está incluído e excluído. O que é a música country real? O que significa ser hip-hop? Essas brigas são inevitáveis, porque os gêneros são inevitáveis. Nós gostamos de comunidades. Esse desejo humano por comunidade ajuda a explicar a história da música popular.
Algo que me chamou atenção no livro, e é muito parecido com a história musical brasileira, é o aspecto racial dos gêneros musicais. Lendo seus capítulos sobre country e rock, gêneros majoritariamente brancos, a ideia de orgulho sobre ser um músico de rock ou de country era quase onipresente. Enquanto isso, no capítulo sobre R&B, um gênero majoritariamente negro, o orgulho aparece bem menos.
Nos Estados Unidos, tudo tem algo a ver com raça. O R&B é um bom exemplo. Eu acho que há orgulho no gênero, especialmente na ideia de que é uma tradição musical negra. Então, há um orgulho em falar que se é um canto de R&B, isso significa algo.
Ao mesmo tempo, alguns músicos sentiram que ser categorizados dessa maneira era prejudicial para eles. Se a audiência de R&B era majoritariamente negra, nos Estados Unidos isso significa que seria uma audiência menor, já que as pessoas negras representam 12% da população total do país. Em diversos momentos, é possível ver vários artistas querendo fazer parte do R&B ou tentando quebrar essa categorização e dizer que não são só ‘cantores de R&B’.
No início dos anos 1980, a revista Billboard renomeou sua parada de R&B como ‘música negra’. Os artistas tiveram sentimentos mistos em relação isso. Por um lado, era uma maneira de celebrar que a parada mostrava a música negra de forma inclusiva, celebrando a diversidade associada aos músicos negros norte-americanos. Porém, alguns outros músicos consideram isso uma forma de segregação. Ninguém fala de ‘música branca’. A música nos Estados Unidos ainda é segregada de alguma forma porque a vida no país ainda é segregada, de certa forma.
Uma das coisas que eu amo sobre a música é que ela pode refletir a maneira como as pessoas vivem, para o bem e para o mal. Se as pessoas estão vivendo de forma segregada, a música popular vai refletir isso. Ao refletir isso de volta para nós, podemos enxergar coisas na música e na sociedade que talvez não veríamos.
No livro, você conta como o punk te levou de um interesse moderado em música para uma paixão que te levou até onde está hoje. Como você acha que suas raízes no punk influenciam o jeito que você ouve música hoje?
Para mim, a melhor coisa sobre o punk rock é que ele era uma rejeição de todos os outros tipos de música. Quando eu descobri o punk, a mentalidade era que todo outro tipo de música era um lixo. Não só em termos estéticos, mas moralmente ruim. Essa ideia de que você pode rejeitar e ter opiniões fortes sobre música, que há pessoas brigando por causa de música e usando essas canções para definir suas identidades era muito sedutora para mim, e ainda é.
Quando eu vou para um show de música country, e o público começa a gritar contra o Joe Biden, há um espírito de punk rock, essa ideia de nós contra eles, que todos fazemos parte dessa tribo, juntos, para se diferenciar de todas as outras pessoas.
O punk rock inspirou em mim uma fascinação que dura minha vida toda com a ideia de que algumas músicas são boas e outras, ruins. Isso me leva a pensar por que algumas pessoas gostam de certas coisas e outras não. Nada é óbvio no mundo da música. Como um crítico, ou como um ouvinte, você precisa buscar entender o que é bom ou ruim para você, com quem você concorda nessa briga.
No capítulo sobre o punk, você escreve que “Música e idealismo podem se reforçar, mutuamente, cada um tornando o outro mais atraente”. Onde você enxerga o idealismo na música hoje?
O punk é fascinante porque, quando ele começa nos anos 1970, ele é muito niilista. Pessoas usando suásticas, fazendo coisas pelo valor de choque, o gênero é associado com um comportamento decadente. Alguns anos depois, bandas como The Clash vem para dizer que o punk pode ser idealista.
Quando os Sex Pistols cantavam “Anarchy in the U.K.”, eles não estavam propondo um programa político, e sim querendo queimar tudo até o chão, fazer bagunça e barulho. Quando o The Clash chega, eles mostram que essa forma pode ser usada para causas políticas de justiça.
Essas duas correntes, a niilista e a idealista, ainda fazem parte da forma como as pessoas pensam sobre a música punk, ou sobre a música em geral. As mensagens nas músicas tendem a ser meio confusas. É bem raro que um músico sente e pense sobre o mundo e diga ‘isso é o que eu realmente acredito, e vou colocar isso numa música para espalhar essa mensagem’. Frequentemente quando isso acontece, a canção não é tão boa.
O que a gente mais vê são pessoas com crenças fortes, mas vagas, sobre as coisas, uma ideia na cabeça e uma canção que acaba sendo uma mistura. A faixa talvez tenha uma mensagem, mas contradiz a si mesma. Por isso, quando penso sobre o assunto, normalmente eu enxergo músicas que passam mensagens confusas ou que estão abertas para interpretação.
De vez em quando, você encontra alguém que tem uma mensagem um pouco mais clara, ou mais obviamente polarizadora. Nesse ano, muito se falou sobre a música “Try That in a Small Town”, do cantor country Jason Aldean, que segue uma tradição do gênero de falar das coisas que estão indo mal na cidade grande, enquanto aqui, na zona rural, nós temos nossos valores fora de moda e vamos defender o que é certo. Essa ideia de associar grandes centros urbanos à corrupção e a zona rural à virtude moral é parte da identidade da música country, e algumas pessoas mencionaram que essa também é uma conversa sobre raça. Os centros urbanos dos Estados Unidos são mais negros que as zonas rurais, predominantemente brancas. O próprio Jason Aldean disse que não era sobre isso que ele estava cantando, mas é óbvio que, nos Estados Unidos, a divisão rural-urbana também é, até certo ponto, uma divisão negra-branca. A canção tem uma mensagem relativamente tradicional, mas que ressoa com discussões políticas presentes.
Se você olha para a história da música, são poucas as ótimas canções que você pode ouvir e dizer ‘essa é obviamente uma canção de protesto’. De forma muito mais frequente, nós pensamos em músicas como “What’s Going On”, de Marvin Gaye, que é uma excelente canção, mas com uma mensagem de confusão. O cantor está perguntando ‘O que está acontecendo?’. Eu não sei, tenho algumas ideias vagas. Algumas das canções que ressoam mais para mim são as que eu percebo que o artista também está tentando entender o sentido do mundo, como todos nós.
Isso me lembra de quando você escreve sobre o Kanye West, que às vezes parecia ser mais um “rapper consciente”, com tom de pregação social, mas na música seguinte poderia se mostrar como algo completamente diferente. As contradições desses artistas nos ajudam a enxergá-los como artistas, e não políticos, que é algo que tem se tornado mais comum nos últimos tempos, como esperar declarações políticas de todo mundo.
Sim. Eu gosto de alguns dos rappers conscientes, mas eu não gosto da ideia de que o hip-hop precisa ser consciente. Eu digo no livro que alguns dos meus rappers favoritos fazem música “inconsciente”, onde não parece que eles têm controle total sobre o que estão dizendo.
Há uma demanda maior para artistas darem declarações, mas isso talvez seja por causa das novas formas de mídia que temos. Antigamente, você lançava um álbum, fazia algumas entrevistas e era isso. Talvez você fizesse alguns shows e dissesse coisas entre as músicas, mas não tinha muito como saber o que seu cantor favorito achava das últimas notícias.
Há uma mudança tecnológica que nos possibilita ter muito mais acesso aos artistas. Talvez, inevitavelmente, vamos passar mais tempo pensando ‘o que será que esse artista pensa’, ‘qual é a posição desse artista’? Aconteceu algo horrível nas notícias 12 horas atrás. Como meu artista favorito vai responder a isso?
As pessoas sempre gostaram da ideia de que os artistas favoritos delas são boas pessoas, e que eles poderiam ser seus amigos. Isso é parte do que significa amar um pop star. É um relacionamento parassocial, onde parece que a pessoa é sua amiga porque você está ouvindo o álbum dela. Então, esse sentimento [de aproximação política] é uma extensão disso. Você quer sentir que os músicos que você ama concordam com você em assuntos sobre os quais você tem grande interesse. Então, não é uma grande surpresa que, quando um ouvinte descobre que um artista discorda deles em um assunto importante, ele pode se sentir traído ou alienado pelo artista. Parte do trabalho de um músico é se colocar em um lugar onde as pessoas podem te amar, e algumas coisas que eles falam podem deixar isso difícil.
Há maneiras diferentes de fazer isso. Se identificar ou se sentir representado por um artista é uma maneira de amar música, mas, como eu digo no livro, também há um tipo de prazer e empolgação na transgressão, em ver um artista dizendo algo diferente daquilo que eu acredito. Essa pessoa está trabalhando com o choque, ela é estranha, e eu vou ter uma conexão com ela mesmo assim.
Quando eu comecei a ouvir punk rock, eu sentia essas duas coisas. Havia o sentimento de ouvir artistas que acreditavam nos mesmos ideais que eu acreditava, mas também havia o sentimento de que algumas daquelas pessoas eram malucas. Minha vida bem estável e confortável de classe média era bem diferente do que eu ouvia naquelas músicas. Isso também está presente, para muitos de nós, no hip-hop. Há uma empolgação voyeurística de ouvir música sobre coisas que eu nunca faria, talvez usando linguagem que eu nunca usaria. Durante os três minutos de duração de uma música, você pode entrar no mundo de outra pessoa.

Hoje, temos acesso a grande parte de todas as músicas que já foram gravadas, com a internet e os serviços de streaming. Você acha que isso deixou nossos gostos musicais mais ou menos tribais?
Eu acho que isso nos fez tribais de jeitos diferentes. Hoje, é muito mais fácil pular de gênero em gênero. Nos anos 1990, quando eu estava tentando aprender sobre techno, era bem difícil. Eu procurava pelos álbuns clássicos, e aí me diziam que o foco do gênero era nos singles. Então eu procurava onde comprá-los, e ia a uma loja de discos de techno ou de house, e cada um deles custaria 10 dólares e teria só uma faixa rítmica. Era complicado.
Agora, se alguém se interessar por techno, as coisas estão muito mais fáceis. Você pode ir online e ouvir os sets dos melhores DJs do mundo. Nesse sentido, ficou muito mais fácil procurar e passar de um gênero para outro.
Porém, hoje há uma espécie de micro-tribalismo, especificamente com os fandoms, a ideia de que você é fã de um único artista e pode ir à guerra por ele no ambiente virtual. Se você ama a Taylor Swift, a Rihanna ou o BTS, você pode entrar nas redes sociais e insultar pessoas que odeiam seu artista favorito, pode apoiar o músico e trocar informações com outros fãs.
Essas micro-tribos de pessoas dedicadas a um único artista são divertidas porque, mesmo que você seja fã da Taylor Swift, talvez a artista mais popular do mundo hoje, você ainda se sente parte de uma comunidade. Você é um swiftie, você vai dedicar uma parte da sua vida a isso, você vai conhecer outros swifties e vai ser parte do mundo deles. Isso é parte do prazer social que a música nos proporciona.
O streaming de música muda um pouco as tribos que formamos, mas o desejo humano de conexão social, de fazer parte de algo, nunca vai embora. Enquanto estivermos ouvindo música e prestando atenção à música, vamos encontrar maneiras de expressar esse tribalismo por meio do nosso amor pelas canções.
Mesmo agora, quando você entra no Spotify, uma das principais opções que eles te dão na sua navegação são gêneros. Essas coisas velhas ainda funcionam. As pessoas clicam para ouvir as novidades do hip-hop e do country, o que há de bom no canal de R&B. Os gêneros musicais eram importantes para lojas de disco, estações de rádio e gravadoras, mas mesmo agora, com os serviços de streaming, eles não vão embora.
No livro, você também fala sobre uma crise na crítica musical nas últimas décadas. Qual é um possível futuro para a crítica de músicas numa cultura que, hoje em dia, valoriza mais as opiniões dos fãs do que dos chamados ‘experts’?
Essa é uma pergunta interessante. Antigamente, uma das funções dos críticos musicais era te dizer como a música soava. Os álbuns eram caros, e você não podia comprar todos, mas você tinha uma assinatura do jornal que poderia te ajudar a saber com o que você gostaria de gastar seu dinheiro. Obviamente, ninguém precisa de críticos para isso hoje em dia. Então, qual é o sentido de ser um crítico de música hoje?
O mundo da mídia mudou. Não há mais tantos empregos para críticos de música como antes, por isso não há mais tantos profissionais, e os que ainda trabalham com isso são normalmente freelancers, especialistas em uma área, um gênero, ou um artista. Então, esses críticos ficam conhecidos como a pessoa que ama Metallica, ou a pessoa que ama Olivia Rodrigo, e quando um álbum de algum artista como esses ou similar é lançado, o editor da publicação sabe que pode te chamar para escrever uma resenha. Esse é um modelo de negócios muito diferente do que eu vivi quando era crítico do jornal New York Times. Na época, sempre que uma banda popular vinha tocar na cidade, eu provavelmente iria ao show e daria minha opinião.
A linha entre crítico profissional e amador é muito tênue. Não há uma credencial que você recebe. Tudo que um crítico pode dizer é: “eu sou como você, só mais um fã de música, dando minhas opiniões”. Então, nesse sentido, muito da crítica musical de hoje é praticada online, por ouvintes que talvez não estejam sendo pagos, mas isso não quer dizer que eles não são críticos. Tem canais de YouTube, perfis de TikTok, sempre há uma discussão sobre qual música é boa ou não.
Claro, as redes sociais encorajam um tipo de comportamento de manada. Parte da diversão disso é que você pode fazer parte de um grupo e, uma hora depois de um álbum ser lançado, todo mundo vai estar postando memes para dizer se gostou ou não. Isso também é uma forma de crítica musical.
Eu não sei exatamente que forma isso vai tomar, mas eu não acho que as pessoas vão parar de ler e escrever sobre música. Nós lemos mais palavras por dia do que as gerações passadas. Talvez leiamos elas em pacotes menores, como no Twitter, mas ainda estamos lendo e escrevendo bastante, e essas discussões sobre música só estão tomando formas diferentes.
Talvez nós nunca voltemos há um tempo em que uma publicação jornalística tinha uma grande seção de resenhas, mas essas conversas ainda estão acontecendo de maneiras diferentes, e eu não acho que o “onde” ou o “como” seja tão importante quanto as conversas em si, quanto o fato de que as pessoas ainda ligam para isso. Enquanto nós estivermos amando música, vamos continuar pensando nisso para definir quem somos, e vamos continuar discutindo sobre o assunto, porque parte da diversão de ouvir música é ter opiniões diferentes.
Você está vindo para o Brasil, na Festa Literária Internacional de Paraty. Se você pudesse escolher um artista brasileiro para assistir a um show enquanto está por aqui, quem seria?
É difícil ficar a par de tudo que está acontecendo na música brasileira estando nos Estados Unidos, mas eu tenho adorado ouvir funk carioca. Eu adoraria ver o MC Kevin O Chris ou algo assim. Esse é um tipo de música que eu amo, e que é tão mais fácil de acessar agora, com os serviços de streaming, do que nos anos 1990, quando eu dependeria de amigos com fitas cassetes para descobrir essas coisas.
Mas, ouvindo assim, a gente não tem o contexto. Nada se compara com estar no lugar, então eu adoraria assistir a um show dele. Eu não vou estar no Brasil durante muito tempo, mas eu vou tentar absorver toda música que eu conseguir.
Eduardo Lima faz parte da equipe do Le Monde Diplomatique Brasil.