O destino das Forças Armadas é ser polícia?
Marinha brasileira acaba de adquirir doze blindados projetados para conflitos em cidades pobres do Sul Global, onde ruas estreitas podem ser ocupadas por “grupos armados irregulares”
Marinha brasileira acaba de adquirir doze blindados projetados para conflitos em cidades pobres do Sul Global, onde ruas estreitas podem ser ocupadas por “grupos armados irregulares”
A mencionada concentração dos homicídios e outros crimes violentos no Brasil não é explicada somente por fatores ligados aos aspectos demográficos, socioeconômicos ou relacionados a disfuncionalidades do sistema de justiça criminal. Para além desses, existem condicionantes ligados à (des)ordem urbana que contribuem para que crimes violentos se concentrem potencialmente nas cidades e metrópoles brasileiras
No quadro geral, os programas deixam a desejar em apontar saídas que trarão impactos diretos nos territórios e na sensação e vivência segura das pessoas, a despeito dos textos apresentarem as propostas nesse sentido
Nos Estados Unidos, a garantia da ordem é uma prerrogativa local. Como então explicar que uma cidade progressista como Minneapolis seja palco de repetidas atrocidades policiais racistas? Portadoras de um pesado passivo em termos de violência contra pessoas negras, as polícias desfrutam de uma impunidade quase total – pelo menos até a morte de George Floyd
A relação das polícias com o regime democrático é ambígua: proteger os cidadãos e garantir os seus direitos ou representar o braço armado das forças sociais hegemônicas na defesa da sua manutenção no poder?
Quantas operações de incursão em favelas são realizadas? As próprias instituições policiais não sabem dizer, muito menos sua razão e seus resultados. Foi justamente para preencher essa lacuna que fizemos um levantamento inédito sobre as operações policiais no Rio de Janeiro, em série histórica
Trabalhamos com 316 ocorrências de resistência seguida de morte, que somavam 388 vítimas da ação policial letal. Em 22 dessas ocorrências foram apreendidos apenas simulacros de arma de fogo e em catorze não houve apreensão de arma alguma. Confira o quinto artigo do dossiê “Estado de choque”, série de seis análises que publicaremos até julho de 2019
Um estudo realizado em 2015, aponta que dos 899 promotores e procuradores de MPs federal e estaduais entrevistados, 88% não veem o controle externo da polícia como prioridade da entidade. Desde 1999, ex-promotores e procuradores do Ministério Público ocupam a cadeira de secretário de Segurança Pública do Estado de São Paulo. Entre eles estão Alexandre de Moraes, atual ministro do STF, Fernando Grella, Antônio Ferreira Pinto, Ronaldo Marzagão, Saulo de Castro, atual secretário de Governo, e Vinicio Petrelluzzi.
Em entrevista exclusiva ao Le Monde Diplomatique Brasil, a diretora executiva da Anistia Internacional Jurema Werneck analisa a escalada de violência no estado do Rio de Janeiro: “Está vivendo as consequências da ausência completa de política de uma segurança pública efetiva e estratégica – que foque na prevenção e não na repressão, ou que priorize o controle de armas e redução de homicídios”.
Nadine Nascimento
Militares são treinados para matar inimigos. As táticas de ocupação de território visam à invasão de países estrangeiros, e a “licença para matar” volta-se contra combatentes estrangeiros. O que significa, então, ocupar nossas próprias cidades, habitadas por concidadãos?
A PMSP é reconhecidamente uma das forças públicas de segurança mais letais do mundo. Como esse padrão se manteve mesmo com a transição entre o regime ditatorial para o democrático? Trata-se de um problema jurídico-político complexo, em que a morte dos “bandidos” não pode se perpetuar como paradigma de segurança e “justiça”
A partir da transição democrática no Brasil, como se tratou o problema da violência policial nas políticas de segurança pública do estado de São Paulo? Mesmo sendo signatário de acordos internacionais, a violência nas ações policiais é um problema constatado no Brasil como um todo. Quais são os limites de ação de grupos internos e externos de controle frente às instituições e às condições de atuação das forças policiais?
A cada quatro anos, os norte-americanos são chamados a eleger seus xerifes e procuradores. Em geral, a escolha é entre candidatos com perfil repressivo. Enquanto isso, a inflação carcerária nos Estados Unidos é tamanha que o assunto entrou na campanha presidencial deste anoRaphael Kempf
Professora livre-docente do Departamento de Sociologia da USP e vice-coordenadora do Laboratório de Pesquisa Social (Laps-USP), Vera da Silva Telles apresenta em entrevista um panorama da gestão dos conflitos nas grandes metrópoles globais e sua aplicação em atos que ocupam ruas e praças, como o Passe LivreCristiano Navarro e Luís Brasilino
Naturalizada pela sociedade e incrementada pelo punitivismo de agentes do Estado, a tortura constitui peça fundamental do funcionamento cotidiano do sistema de justiça criminal nacional. Confira a seguir o quarto artigo da série especial “Prisões, a barbárie contemporânea”Rafael Godoi
Num mundo em que principalmente as novas tecnologias da comunicação mudam a todo instante, não há como não questionar o porquê de ainda termos de nos preocupar com fatos que decididamente remetem a uma barbárie arcaicaHelcio Kovaleski
“Você sabe o que eles pretendem fazer? A Sabesp tem um plano B para o futuro?”, indaga. Todos olham para a debatedora, que responde desolada: “Não, eu tenho as mesmas informações que vocês e não faço a menor ideia se há um plano B, C ou D. Por outro lado, sei que o pior ainda está por vir”Anne Vigna
Segundo o Núcleo de Estudos da Violência (NEV) da USP, 74% das prisões por tráfico de drogas em São Paulo contaram apenas com o testemunho dos policiais que realizaram a apreensão do acusado, e, em 76% de todos os inquéritos policiais da cidade, os agentes que participaram da prisão foram ouvidos como testemunhasAnderson Lobo da Fonseca
Há muito pouca violência em manifestações por parte de manifestantes. No entanto, há muita violência e violência sistemática por parte da polícia. Um debate público que se concentre na destruição de vidraças e não na agressão sistemática à integridade física me parece equivocado e desequilibradoPablo Ortellado
No dia 23 de dezembro de 2013, o presidente uruguaio José Mujica aprovou um projeto de lei para criar um mercado regulamentado e legal da maconha. Com a medida, ele tornou-se o primeiro chefe de Estado a legalizar a produção e a venda – em uma rede de farmácias – de uma droga proibida em toda parteJohann Hari
Graças à pressão das manifestações de junho, o Congresso repeliu uma proposta que favoreceria a impunidade.” Essa história foi alardeada aos quatro ventos. Agora vamos aos fatosRogério B. Arantes
Com 2,3 milhões de presos, os EUA têm a maior taxa de encarceramento do mundo. O setor penitenciário, que emprega mais pessoas que a General Motors, a Ford e o Walmart juntos, representa um desafio econômico relevante, em particular nas zonas rurais, onde os xerifes são encorajados a encher as celas de suas prisõesMaxime Robin
Está havendo uma transmutação regressiva do social, com a presença de valores conservadores, uma articulação nefasta entre política e moralismo religioso, além do incentivo ao empreendedorismo individual e ao consumismo em detrimento de formas solidárias de sociabilidade e da existência de mecanismos de proteção socialSonia Fleury
A compreensão coletiva dos conflitos sociais ficou cada vez mais reduzida à esfera cotidiana imediata, e os alvos das atividades de manutenção da ordem pública tornaram-se cada vez mais territorializados: não se trata mais de coibir atividades proibidas, mas de controlar áreas tidas como perigosasLuiz Antonio Machado da Silva