Banco Central Autônomo: o “Jurassic Park” econômico
Segundo os defensores da medida, com a autonomia o Banco Central se tornaria livre de pressões político-partidárias
Segundo os defensores da medida, com a autonomia o Banco Central se tornaria livre de pressões político-partidárias
Em outubro de 2019, depois de uma semana de recrudescimento dos protestos e da morte de dezoito pessoas, o governo chileno suspendeu o toque de recolher, mas a extensão das reivindicações já deixava claro o que grande parte da população desejava: o fim da Constituição autoritária e neoliberal de Pinochet
Se até no Reino Unido, berço das práticas neoliberais, as privatizações e a regulação têm perdido legitimidade em virtude de sua baixa efetividade, qual seria o motivo que tem levado o governo Bolsonaro e os economistas de mercado brasileiro a continuarem defendendo a mesma retórica de quarenta anos atrás?
Antes de falarmos sobre a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Reforma Administrativa, enviada em setembro pelo presidente Jair Bolsonaro ao Congresso, precisamos discutir sobre a reforma do Estado brasileiro. A Reforma Administrativa surge no bojo do neoliberalismo, da globalização econômica do capital e da reestruturação produtiva.
Na censura, na desinformação e no discurso de ódio, o ataque ao gênero converge na atuação de líderes e partidos de extrema direita. Alimentam-se reciprocamente. E esses ataques podem servir para ampliar a adesão popular a líderes cujas agendas são, em outros aspectos, antipopulares. Por isso é tão importante compreender a conexão atual entre a agenda neoliberal e a neoconservadora.
Que o modelo de desenvolvimento capitalista promove um desequilíbrio ambiental e social é inegável, mas até que ponto ele pode ser considerado uma doença?
A ideologia neoliberal vende-se a si mesma como não ideológica, mas técnica: um manual de gestão frio que, como dizia Foucault, toma para si o papel da veridição
Temos um país já extremamente desigual tendo que enfrentar uma pandemia desta magnitude com um sistema público de saúde enfraquecido e com uma estrutura privada que atende apenas um quarto da população. Isso reforça a necessidade de falarmos de desigualdade social. Há quem diga que o vírus é democrático, atingindo a todos igualmente, mas os estudos apontam o contrário: a população negra, pobre e periférica do país é a mais impactada pelo coronavírus tanto do ponto de vista econômico quanto de saúde pública. Os dados também indicam maior taxa de morte entre a população negra
O coronavírus parou o mundo e vem ceifando vidas por todo o planeta. A economia global diminuiu consideravelmente seu ritmo e os Estados se depararam com uma excepcionalidade que não estava nos planos de governo de nenhum dos governantes atuais
A forma fascista neoliberal de fazer política precisa ser fortemente contestada. Em parte, isso significa criar uma nova linguagem, de fundamentação socialista, mas reinventada, para a política, a vida cívica, o bem público, a cidadania e a justiça social
A racionalidade neoliberal nos constrói, nos atravessa subjetivamente para que façamos de nós microempresas, empresários e negociantes de nós mesmos. Nosso modo de nos relacionar é individualista porque é competitivo. E a competitividade é um valor generalizado e naturalizado a tal ponto que não percebemos isso.
Uma das principais teóricas da segunda onda do feminismo nos Estados Unidos, Fraser afirma que estamos hoje diante de uma crise de grandes proporções que coloca em xeque a legitimidade do neoliberalismo e, junto com ele, a de um tipo liberal e corporativista de feminismo, preocupado exclusivamente em garantir uma maior presença de mulheres em cargos de liderança.
Diante desse cenário de “crise permanente”, utilizada como ferramenta retórica para “fundamentar” a “urgência” de “reformas salvadoras” que na prática cuidam mesmo é do avanço dos interesses do poder econômico, hoje centrados na especulação rentista e na euforia do lucro rápido do capital, essa era neoliberal Michel Temer-Jair Bolsonaro tem aprovado, chamando de “reformas”, o que na prática tem sido nítidas DEformas ou mesmo demolições. Mudanças que representam perdas e retrocessos, sempre apresentados ao povo com simbologia imaginária de “modernização”, “salvação”, “responsabilidade” e “seriedade”.
O discurso está certamente fora do lugar. O Brasil, desde Fernando Collor, mas principalmente com Fernando Henrique Cardoso, desregulou relações de trabalho, abriu-se ao comércio exterior, vendeu estatais, etc. O “necessário” ajuste prometia modernizar a economia, provocando crescimento e melhores condições de vida para a população. Não se viu a realização da promessa até 2003. Nos anos seguintes, o melhor momento produtivo veio, mas em um governo muito criticado pelos neoliberais. Hoje, com o Brasil novamente sob a tutela neoliberal, a última PNAD Contínua (31/01/2020) apresentou números pouco alvissareiros à maioria dos brasileiros. Por exemplo, a média de pessoas desocupadas saltou de 7,0 milhões, em 2014, para 12,6 milhões, em 2019.
Bolsonaro expressa o âmago de seu projeto: a destruição da política nos moldes como existiam, para o estabelecimento da política nos moldes bolsonaristas
O modelo neoliberal colocado em prática no Chile após o golpe militar de 1973 nos dá um panorama do que pode ocorrer no Brasil em um futuro governo de Jair Bolsonaro. E isso não é casual
Não há mais espaço para a social-democracia e a democracia liberal dá sinais de esgotamento em todo o mundo. Com a concentração do poder nas mãos do capital financeiro, que se acelerou desde a crise de 2008, os organismos internacionais e os governos nacionais foram capturados e submetidos aos seus interesses
As tragédias de Mariana e da Ponte Morandi, que desmoronou recentemente na Itália, para citar apenas dois casos, expõem as diferenças de prioridades entre os distintos modelos de gestão. São calamidades que poderiam ter sido evitadas se a segurança tivesse sido considerada mais importante do que o lucro a curto prazo
Aqueles que se organizam para a defesa da democracia e dos direitos que estão sendo suprimidos não encontram uma linguagem capaz de sensibilizar a maioria do povo e são ignorados pelos grandes meios de comunicação.
As respostas dadas à crise de 2008 desestabilizaram a ordem política e geopolítica. Há tempos vistas como a forma última de governo, as democracias liberais estão na defensiva. Perante as “elites” urbanas, as direitas nacionalistas encampam uma contrarrevolução cultural no campo da imigração e dos valores. Contudo, elas perseguem o mesmo projeto econômico de seus rivais. O peso excessivo jogado pela mídia nessa clivagem visa constranger a população a escolher entre esses dois males
O neoliberalismo, nem tanto por seus parcos e vagos preceitos, mas seguramente pela agressividade de seus procedimentos e por suas consequências, vem promovendo uma intensa degradação da democracia.
O discurso “responsável” do centro teve um apelo nulo, enquanto as incongruências da direita começaram lentamente a cavar espaço na mídia convencional. A verdadeira funcionalidade do malabarismo discursivo direitista não é só desmoralizar a política e, assim, conquistar um voto de protesto. Trata-se de representar eleitoralmente a última ideia de uma sociedade moribunda: o Estado policial democrático
Segundo Negri e Hardt, vivemos um momento de transição nas formas de exploração capitalista: de uma ordem baseada na hegemonia do lucro (pela exploração do trabalho industrial), transitamos para uma ordem dominada pela renda, em que a dívida é um elemento central para produzir a subordinação e construir os elos de uma nova servidão
É um esboço cada vez mais bem-acabado. Um governo – progressista ou reacionário – toma uma decisão que desagrada às preferências das finanças. Os mercados ameaçam, o poder político renuncia, a mídia aplaude. A crise italiana demonstrou que o “círculo da razão” neoliberal se parece mais e mais com um nó apertado em torno do pescoço do eleitor