Sentir sede em frente ao rio
Em seus mais de 30 anos como defensora de direitos humanos junto ao Ministério Público Federal, a subprocuradora-geral da República aposentada Deborah Duprat testemunhou em campo as consequências da destruição das águas por grandes empreendimentos. Duprat lembra-se, especificamente, da tragédia que foi, e é, a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará. “É uma coisa impressionante os efeitos devastadores [do empreendimento] sobre as comunidades locais. O principal efeito é a sede. Comunidades que estão à beira de um recurso hídrico importantíssimo como é o [rio] Xingu, e não têm hoje água de qualidade, não têm nem fontes alternativas, dependem de carros-pipas.” A entrevista a seguir foi concedida antes das recentes chuvas torrenciais, alagamentos, rompimento de barragens, vazamento de diques, perdas materiais e mortes em diferentes lugares do país. A sede e o afogamento são efeitos da mesma destruição do meio ambiente – águas, terras e matas – causada por grandes empreendimentos minerários, energéticos, logísticos e pelo agronegócio