
R$ 24,00

A jogada por trás dos sites caça-cliques
A grave crise da imprensa iniciada nos anos 2000 se encerrou, ao menos no plano econômico. De um lado, os grupos tradicionais que apostaram nas assinaturas e na informação on-line paga se recuperam. De outro, emergem dezenas de sites de variedades inteiramente dependentes da publicidade – e do número de páginas visitadas
Sophie Eustache e Jessica Trochet

Barbárie: compartilhar
Longe do silenciamento das massas promovido pela TV ou o rádio, a internet autoriza a fala, o julgamento, a expressão emotiva e, nessa permissão codificada, deles nos dispensa, desacostuma, até que, sem a menor necessidade de censura, os atrofia. Se o automatismo resultante é mais palpável na operação oca de “curtir”, este se torna menos evidente nos espaços destinados à escrita
Silvia Viana

O que fazer do “brasil”?
Hoje, no “brasil”, aparentemente perdemos, no Estado e na sociedade, as referências a esse pacto civilizatório mínimo que constituiu a nação. Perdemos o reconhecimento da alteridade como parte de uma humanidade comum. Informados pela mídia e/ou pelas redes sociais, temos acompanhado microcenas de horror e barbárie que vêm compondo um enredo perverso
Márcia Pereira Leite

Como entrevistar Adolf Hitler?
A história da mídia tem seus mitos. O do grande repórter pronto a desafiar os poderosos ocupa nela um lugar de destaque. A realidade, porém, se mostra menos romântica, principalmente quando nos debruçamos sobre os anos 1930. As condições nas quais Adolf Hitler foi entrevistado por dez vezes pelos enviados especiais franceses antes da guerra expõem o grau de servilismo de um certo jornalismo
Dominique Pinsolle

Sobre um pano azul com doze estrelas amarelas
Ninguém poderia prever que, no início dessa odisseia fracassada, a Europa central e a oriental se tornassem, desde sua libertação, uma pequena América do Leste, onde sex-shops e McDonald’s substituiriam as livrarias e tabernas, onde o Pentágono se apressaria a instalar seus consultores e a CIA, suas prisões clandestinas
Régis Debray

No Arizona, o muro de Trump já existe
De acordo com Donald Trump, a fronteira entre Estados Unidos e México seria uma peneira que somente a construção de um “grande e belo muro”, de 3,2 mil quilômetros, poderia tampar. Contudo, os norte-americanos não esperaram o novo presidente para caçar imigrantes clandestinos. No Arizona, o deserto, as patrulhas policiais e as milícias já cuidam desse serviço

A armadilha dos 99%
Em 2011, o movimento Occupy Wall Street se construiu em torno de uma ideia, um slogan: “Temos em comum o fato de sermos os 99% que não toleram mais a avidez e a corrupção do 1% restante”. Diversos estudos acabavam de demonstrar que a quase totalidade dos ganhos da recuperação econômica tinha beneficiado o 1% dos norte-americanos mais ricos. (escute o artigo na versão original)
Estratégias da violência se fundam no genocídio de negros, pobres e mulheres
Com a combinação do jogo do medo com a percepção de uma força acima das leis, a segurança pública em prática no país demonstra que o aparato institucional é insuficiente para proteger os cidadãos, demandando o acionamento do autoritário e violento para conter o “outro” perigoso
As três batalhas de Raduan Nassar
Aos 81 anos, Raduan Nassar, paulista de Pindorama, norte do estado, possui uma trajetória de inquietude. Abandonou a Faculdade de Direito do Largo São Francisco no quinto ano, já fisgado pela literatura. A filosofia e o jornalismo foram casas temporárias de um homem que aprendeu, na adolescência, a gostar de palavras, então aluno de uma de suas irmãs, professoras de português. O pendor pela palavra desembocou em Lavoura arcaica (1975), Um copo de cólera (1978) e uma coletânea de contos publicados de maneira esparsa ao longo dos anos, incluindo Menina a caminho, O ventre seco, Hoje de madrugada e outros.
Crises em cadeia
Há dez anos eclodia a crise financeira mais grave desde 1929. Os banqueiros retomaram seus negócios habituais, mas a onda de choque continua. Ela tornou caducos certos modelos de crescimento e provocou o descrédito maciço do mundo político. A essas duas crises soma-se outra, ecológica, que ameaça o planeta em si. Como os pensadores críticos articulam essas três dimensões?
Golpe de toga
A demolição do edifício político abriu espaço para tentações fascistas. Entre o velho que se dissolveu e o novo que ainda não se impôs emergiram formas mórbidas, como diria Gramsci. Pela primeira vez na história brasileira uma candidatura fascista apresentou altos índices de intenção de voto em 2017
O ar-condicionado ao assalto do mundo
Quem nunca sonhou, quando o calor se torna insuportável, em ligar o ar-condicionado para desfrutar uma brisa refrescante? Alimentada por ondas de calor em sequência, essa tentação não é desprovida de consequência: o climatizador transforma o modo de vida dos países onde se instala
No Arizona, o muro de Trump já existe
De acordo com Donald Trump, a fronteira entre Estados Unidos e México seria uma peneira que somente a construção de um “grande e belo muro”, de 3,2 mil quilômetros, poderia tampar. Contudo, os norte-americanos não esperaram o novo presidente para caçar imigrantes clandestinos. No Arizona, o deserto, as patrulhas policiais e as milícias já cuidam desse serviço
Os invisíveis geram medo
São mais de 160 pessoas assassinadas por dia. Na Síria, por exemplo, em quatro anos de guerra morreram 256 mil pessoas. No Brasil, no mesmo período, quase 279 mil.2 Não é uma guerra civil declarada, mas este é o país em que os policiais mais matam e mais morrem no mundo. Se de um lado estão os policiais e o Estado, do outro lado quem é o inimigo?
A grandeza perdida da malha ferroviária argentina
Curioso paradoxo das estradas de ferro na América Latina: inicialmente a serviço das metrópoles europeias ávidas por matéria-prima, elas atualmente encarnam uma perspectiva de soberania nacional por meio da integração dos territórios. Só falta deixá-las prontas após longos períodos de gestão privada, sinônimo da deterioração dos equipamentos
Casamentos desastrosos no Tadjiquistão
Na Ásia central pós-soviética, a profusão inédita de recursos financeiros e o acesso a novos modos de consumo reforçam a tradição dos casamentos caríssimos. As primeiras vítimas são as camadas populares, que acabam por se endividar para assumir a obrigação de gastar publicamente seu dinheiro
Na periferia, um prefeito contra os moradores
Em um distrito popular como Sarcelles, 68% dos eleitores abstiveram-se nas eleições legislativas francesas de junho. Há tempos, a política, e a disputa de projetos, foi substituída por um clientelismo municipal cheio de hostilidade em relação aos habitantes. As palavras vazias sobre convivência não conseguem mais dissimular o peso político das convicções religiosas