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Os usos da compaixão
Solidariedade, responsabilidade: palavras que ganharam forte atualidade para sublinhar o que é devido aos menos privilegiados – os “vulneráveis” – em nome da igualdade imperfeita e do desejo de corrigir as injustiças. Viver juntos envolve assim prestar atenção aos sentimentos de cada pessoa. Mas o sentimento permite fundar uma norma coletiva?

Direito do Mar balança, mas não avança
O mar, que cobre 70% do planeta, oferece ao olhar uma imensidão contínua. Porém, não escapa à apropriação, à exploração e às fronteiras. Como regulamentar os conflitos marítimos e o exercício de soberania dos Estados? Em 10 de dezembro de 1982, a ata final da Conferência das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM) deu uma resposta original e duradoura a essas questões

A reforma devora seus filhos
Durante muito tempo, nós os poupamos: os altos funcionários públicos acreditavam estar protegidos. Eles observavam com um olhar benevolente as reformas do Estado ao molho sarkozista (Revisão Geral das Políticas Públicas – RGPP), ao de Hollande (Modernização do Serviço Público – MAP) ou macronista (Comitê do Programa Serviço Público 2022 – CAP22), que sempre poupavam a nobreza, mas atingiam os outros servidores. Em nome da digitalização, serviços foram fechados. Para fazer economia, não indenizavam mais as demissões. Seria preciso fazer mudanças, suportar a cólera dos usuários irritados, trabalhar mais e ganhar menos, já que os governos estavam determinados a congelar as remunerações. Não fazia sentido, era um fiscal da receita estimulado a dar consultoria sobre planejamento tributário.

O choque elétrico europeu
A crise energética resultante das sanções ocidentais contra a Rússia não só corroeu o poder de compra dos europeus, como também enfraqueceu o Velho Continente. Ela ilumina o fracasso da liberalização do mercado da eletricidade na França e, sobretudo, a obstinação dos vários governos em manter essa política a qualquer custo

Na Itália, a linguagem dupla de Giorgia Meloni
Em visita a Bruxelas, Giorgia Meloni apresentou suas credenciais: a primeira-ministra italiana promete respeitar os tratados europeus, cumprir o dogmatismo com rigor, apoiar a Ucrânia a todo custo… Posições que ela combina com o ultraconservadorismo autoritário em questões sociais. Porém, isso interessa menos às autoridades da União Europeia

A ladainha húngara
No concerto europeu de apoio à Ucrânia, a Hungria toca sua própria partitura. Embora denuncie a agressão russa, o primeiro-ministro Viktor Orbán defende uma via de compromisso com Moscou. Essa singularidade, que o afasta de seus vizinhos, responde sobretudo a considerações ideológicas e de política interna. Para nacionalistas húngaros, o futuro está no Oriente
Prudentes emancipações na Ásia Central
Se nenhum país da Ásia Central o condenou oficialmente, o ataque russo à Ucrânia provocou ranger de dentes na região. Moscou, até bem pouco tempo atrás garantia de segurança e parceiro econômico imprescindível, vê seu monopólio contestado por outras potências, principalmente os Estados Unidos, que retornam à Ásia Central após o fracasso afegão
A divisão do poder no Irã
Diante dos protestos, que continuam determinados, o regime iraniano optou pelo método de endurecer para restaurar a calma. Entretanto, uma fração da hierarquia religiosa se arrepende da ausência de mecanismos de conciliação entre o poder e as manifestações
No Paquistão, capitalismo à mão armada
Num contexto de crise econômica, o Paquistão é, mais uma vez, sacudido por uma tempestade política. Afastado do cargo de primeiro-ministro, Imran Khan, que organizou uma marcha contra seu sucessor, Shehbaz Sharif, escapou de uma tentativa de assassinato. Em Karachi, líderes locais, empresários e militares se unem para controlar com mão de ferro os trabalhadores da indústria têxtil
Uma guerra midiática no continente africano
Na cúpula da Organização Internacional da Francofonia, em Djerba (Tunísia), em 20 de novembro, Emmanuel Macron denunciou novamente a propaganda das “potências” que querem “prejudicar” a imagem da França na África. Países que incomodam Paris estão travando uma guerra midiática para promover seus interesses e prejudicar os concorrentes
Nos Estados Unidos, a gentrificação pela escola
Conhecemos a estratégia dos pais que escolhem o local de moradia de forma a direcionar seus filhos para as melhores escolas. Nos Estados Unidos, as prefeituras estão invertendo a lógica. Preocupadas em atrair populações ricas para centros urbanos em geral pobres, elas destroem algumas escolas para construir outras, tentando dopar a “oferta escolar” nessas regiões
As intuições do marxista Mariátegui
Parte da esquerda latino-americana considera que a influência da obra de intelectuais ocidentais é uma forma de colonialismo. Não é o caso do socialista José Carlos Mariátegui, nascido no Peru em 1894. A ele devemos a introdução do marxismo na esquerda regional, sem “decalque” nem “cópia”, mas também sem a busca por uma originalidade excessiva
Os jovens e a pandemia de Covid-19
Pesquisa do Conselho Nacional de Juventude (Conjuve) e parceiros aponta que a pandemia provocou uma intensificação do papel dos jovens brasileiros na provisão e nas responsabilidades consigo mesmos e sua família, uma vez que muitos familiares adultos ficaram doentes, incapacitados para o trabalho, foram demitidos ou tiveram o salário diminuído
Governabilidade e bolsonarismo
Neste artigo, produzimos um rápido panorama da operação do bolsonarismo na Câmara dos Deputados, com atenção aos partidos do Centrão, e nos governos estaduais. Ainda que a vitória de Lula tenha colocado fim ao governo Bolsonaro, não é possível afirmar que o bolsonarismo, entendido como um conjunto de ações e discursos conservadores e autoritários, tenha terminado
Nem sempre a tempestade dá lugar, de imediato, à bonança
A ascensão de Bolsonaro e do bolsonarismo dialoga com as marcas de continuidade com o passado autoritário e com a tradição do anticomunismo. Porém, é importante destacar que não se reduzem à reprodução desse passado, sendo também construções do tempo presente, reações a mudanças políticas que ocorreram após a Constituição de 1988 e durante os governos do PT
A ultradireita e o bolsonarismo: passado e futuro
Dos resultados nas eleições à capacidade de pautar o debate público, não faltam sinais de consolidação da ultradireita. O diagnóstico ainda deixa, todavia, perguntas no ar. Qual é o papel de Bolsonaro? Há uma coincidência entre bolsonarismo e ultradireita? Para onde vai a parte da coalizão bolsonarista afinada com os discursos e performances da direita tradicional?
Cronologia da radicalização
Até a posse de Lula na Presidência da República, haverá tensão política, violência e instabilidade institucional crescentes. A extrema direita, recusando-se a aceitar o resultado das eleições, propõe o golpe de Estado e a violência aberta contra os petistas e seus aliados.
Imperialismo da virtude
A coexistência de um Senado controlado pelos democratas e de uma Câmara dos Deputados em que os republicanos serão majoritários não abala a política externa dos Estados Unidos. Poderia até revelar uma convergência entre o militarismo neoconservador e o neoimperialismo moral