Edição 187 | Fevereiro 2023

R$ 24,00


Onde Assange tem amigos
Se há um campo em que a chegada da esquerda ao poder é um divisor de águas na América Latina é a política externa. Enquanto diversos líderes pedem a retomada do processo de integração regional, as capitais que se deslocaram para a esquerda não hesitam em expor suas divergências com Washington. Em particular no “caso Assange”

A serviço de boas causas
Alguns filmes têm como objetivo melhorar o mundo. Como ajudá-los? Conectando-os com uma mensagem e mirando o público capaz de transmiti-la. Entretanto, não há garantias de que o cinema vá ganhar com isso, e menos ainda que essa estratégia resulte em um comprometimento engajado

Uma mina de arte em uma mina de urânio
Aos olhos ocidentais, a arte pode servir ao dinheiro, porém não à política: qualquer criação vinda de uma república socialista é suspeita. Seguindo esse princípio, os tesouros artísticos destinados aos trabalhadores foram deixados aos ratos nos desertos industriais da Alemanha Oriental após a queda do Muro de Berlim. Como a coleção de pinturas descobertas em Chemnitz, antiga Karl-Marx-Stadt…
Os bastidores da vigilância automatizada
O Parlamento francês está analisando um texto que legaliza a vigilância por vídeo automatizada para monitorar multidões durante as Olimpíadas de Paris em 2024. No entanto, esse controle total de populações por programas de computador já existe. Uma pesquisa imersiva em uma empresa que fabrica essas ferramentas detalha como elas realmente funcionam
O papa contra as cruzadas ocidentais
Ao mesmo tempo chefe de Estado e autoridade religiosa, o papa quer ser um mediador no cenário internacional, especialmente em relação a conflitos armados. No caso da Ucrânia, essa posição atrai acusações de ingenuidade e complacência com Moscou. A história recente da diplomacia do Vaticano revela um pacifismo mais sutil do que parece
Israel, o golpe de Estado identitário
Ao dar prioridade às reformas políticas exigidas por seus aliados nacionalistas e ultraortodoxos, Benjamin Netanyahu está empreendendo uma profunda transformação na democracia israelense. Os poderes da Suprema Corte, e também dos juízes, estão na mira de uma coalizão que planeja estender o papel da religião na educação pública e não ceder nada aos palestinos
Em Leicester, a sombra de Narendra Modi
Confrontos entre comunidades hindus e muçulmanas agitaram recentemente a cidade de Leicester, 159 km ao noroeste de Londres. A influência do etnonacionalismo hindu na Inglaterra explica em parte o crescimento da violência
Os tentáculos da internacional hindu
Jogando a Índia contra a China, os líderes ocidentais cortejam Narendra Modi, transformado em um democrata exemplar. No entanto, o primeiro-ministro indiano está apoiado por uma ideologia hindu extremista, o Hindutva, que incita o ódio religioso no país e fora dele. Silenciosamente, seu partido e seus aliados construíram uma organização global com múltiplas ramificações
O Reino Unido e a União Europeia depois do Brexit
Em 14 de janeiro, o primeiro-ministro britânico Rishi Sunak anunciou o envio de tanques Challenger 2 para a Ucrânia. Londres abriu assim caminho para a entrega de armas pesadas a Kiev: desde o início da invasão russa, o Reino Unido dá o “tom” à Europa, em sintonia com os Estados Unidos. Apesar do Brexit. Apesar dos discursos franceses sobre a soberania estratégica europeia
Ucrânia, o dilema da África
Fórum universal de 193 países, a Assembleia Geral da ONU revela as rachaduras de uma nova geopolítica. A votação das resoluções relativas à Ucrânia mostra uma África dividida e relutante em seguir as escolhas ocidentais. Hesitações sem precedentes, que não podem ser explicadas apenas pela renovação das relações do continente com a Rússia
Estrondo de armas, estoques no limite
Ao envolver massas consideráveis de homens e equipamentos e ao se desenrolar em novos terrenos – o espaço, especialmente –, o conflito entre Kiev e Moscou tem uma natureza inédita. A menos que haja exaustão brutal de uma das partes, parece improvável que a guerra termine em vitória militar. Enquanto isso, a diplomacia continua interrompida
Groenlândia: a independência em pequenos passos
Imensa ilha de gelo presente em qualquer mapa-múndi, a Groenlândia estimula a imaginação. Cobiçada pelo controle estratégico do Ártico, ela alimenta fantasias, seja como eldorado da mineração, seja como dado do apocalipse climático. No caminho para sua emancipação política, o povo inuíte busca recursos que lhe permita preservar um Estado social forte para enfrentar as limitações geográficas
Rumo a um “bolsonarismo” sem Bolsonaro?
Como explicar que, sem apoio da mídia, de grande parte do patronato e das elites políticas conservadoras, as redes do ex-presidente Jair Bolsonaro tenham tentado um golpe no dia 8 de janeiro? Talvez pela esperança de que os militares se juntassem a eles. Apesar do fracasso do golpe, a corrente política encarnada pelo ex-presidente demonstrou que não precisa mais de seu mentor para existir
O que resta da democracia?
O acúmulo de fatos contra Bolsonaro indica ter ele supostamente praticado improbidade e inúmeros crimes, inclusive contra a “consciência universal” – uma catástrofe humanitária –, os quais poderão levá-lo à prisão, à inelegibilidade e à condenação a reparar danos. Mas ele e o bolsonarismo não desaparecerão
Conhecereis a verdade e ela poderá levar Bolsonaro para a cadeia
O melhor meio de enfrentar quem quer desestabilizar o funcionamento das instituições é o próprio funcionamento das instituições. Esse é o teste fundamental do estado democrático de direito. Os ataques de 8 de janeiro de 2023 não foram espontaneamente gerados, eles estão em um contexto de uma série de crimes. E é preciso entender qual é o papel de Jair Bolsonaro nesses crimes
Quem controla as polícias?
Não foram poucos os sinais de que muitos integrantes das Forças Armadas e das polícias apoiavam os atos antidemocráticos. O bolsonarismo era e ainda é muito presente entre policiais, e a sensação de que ninguém seria punido por manifestar essa predileção era real
Derrotado o golpe, precisamos avançar com a democracia
A vitória acachapante das forças democráticas contra o golpe bolsonarista gera dois riscos: a acomodação e a conciliação com setores que foram lenientes com o golpismo são um deles; o outro é nos contentarmos somente com a punição dos milhares de envolvidos, principalmente se o ex-presidente Bolsonaro for considerado inelegível ou mesmo preso
A barbárie como paradigma
Dizimar as populações indígenas para se apossar de seus territórios, explorar suas riquezas, e destruir a Amazônia
Um homem contra um povo
Algumas semanas após a ascensão de Emmanuel Macron ao poder, um de seus partidários, o atual presidente da Comissão de Relações Exteriores da Assembleia Nacional, resumiu assim a orientação econômica e social que seria adotada: “Objetivamente, os problemas deste país implicam soluções favoráveis aos ganhos elevados”