Edição 189 | Abril 2023

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O ataque de Karl XII contra a Rússia
Invadir a terra dos czares e se tornar senhor de Moscou passando pela Ucrânia era o plano do soberano sueco no início do século XVIII. Por muito tempo, isso foi considerado um erro estratégico; depois, os especialistas em guerra se convenceram do contrário. No entanto, assim como para outros invasores posteriores, o resultado foi a derrota

A literatura, um produto a mais
Ao observarmos a profusão de livros publicados, acreditamos prontamente que o leitor tem a escolha – uma escolha na verdade muito limitada. Porque, se as “marcas” (esse é o termo usado) que os publicam parecem diversas, elas pertencem esmagadoramente a poucos grandes grupos. E as obras oferecidas, na maioria das vezes, cabem em caixas claramente identificáveis pelo consumidor

Atlantropa, o ancestral dos grandes projetos inúteis
A utopia da paz universal muitas vezes estimulou a imaginação de personalidades excêntricas e deu origem a projetos insanos, como o projetado pelo arquiteto alemão Herman Sörgel no fim da década de 1920, que impressiona pela ambição faraônica e sua fé ilimitada na tecnologia: criar artificialmente um continente eurafricano sob domínio europeu e secar parcialmente o Mediterrâneo

A roda quadrada das finanças
A falência do banco californiano Silicon Valley Bank (SVB), em 10 de março, veio com uma sensação de déjà-vu: Bolsas desabando, pedidos de calma, resgate de investidores, promessas de investigação. Quer a queda do SVB arraste ou não o resto da economia, uma coisa já é certa: quinze anos após a falência do Lehman Brothers, parece estar tudo começando outra vez
Tanzânia: o povo massai expulso pelo turismo – e pela caça
Em 1968, os Beatles zombavam de “Bungalow Bill”, um ocidental adepto da meditação e da caça ao tigre na Índia. Hoje, seus herdeiros vêm dos Emirados Árabes Unidos, que caçam grandes animais nos vales e pastagens da África Oriental – em detrimento das populações locais, forçadas a fugir pelas autoridades que cuidam muito bem desses afortunados predadores
A China está perdendo a batalha da inteligência artificial?
Após a reunião anual do Congresso Nacional do Povo e da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês, a nova equipe de governo está instalada em Pequim. Entre os desafios que precisa enfrentar, está o embargo dos Estados Unidos às tecnologias de ponta. Embora a China mostre um progresso espetacular em muitas áreas da inteligência artificial, ela está seriamente atrasada em certos setores, especialmente o de semicondutores
Pequim, o promotor da paz?
Após sete anos de rompimento, a Arábia Saudita e o Irã restabeleceram relações diplomáticas. Graças à sua bem-sucedida mediação, a China assume o papel de protagonista nas relações internacionais, demonstrando que os Estados Unidos não têm mais o monopólio da influência no Oriente Médio. Resta saber se os países recém-aproximados serão capazes de superar seus múltiplos desacordos
Direito dos povos, um debate que vem de longe
Desde o século XIX, os pensadores revolucionários se perguntam sobre a oposição entre as reivindicações nacionalistas e as exigências da luta de classes. Confrontados com essa mesma questão, Vladimir Lenin e Leon Trotsky subordinavam os interesses nacionais aos do proletariado
Vacinas e Covid, as origens de uma desconfiança
A injeção maciça de dinheiro público para combater a Covid-19 não afrouxou o controle da indústria farmacêutica sobre a produção da informação médica. Muitas vezes usado para justificar ataques às liberdades, o recurso a um vocabulário científico perdeu significado, favorecendo, em troca, discursos simplistas. Três anos depois do início da pandemia, uma avaliação mais documentada das políticas de saúde pública ainda precisa ser feita
Da Venezuela ao Peru, nem todos os manifestantes são iguais
Evidências apontam que é melhor desafiar um presidente de esquerda do que um líder que chegou ao poder por um golpe de Estado. Uma comparação dos tratamentos reservados a levantes recentes em dois países latino-americanos aponta que nem todas as mobilizações têm a mesma legitimidade perante os tribunais midiáticos e diplomáticos
“Fazemos com o que temos!”
Conciliar o apoio popular maciço com a fraqueza relativa das forças mobilizadas em campo: esse é o desafio enfrentado pelos militantes sindicais em luta contra a reforma da previdência na França. Eles o aceitam mais ou menos bem, contando com o tempo. Exemplos no oeste do país
Sobre o bom uso da Constituição
É razoável esperar que os “sábios da Rue de Montpensier” rejeitem toda ou parte da lei que reforma a previdência da França? O Conselho Constitucional continua a ser um órgão essencialmente político, que muito raramente tem vontade de fazer frente aos poderes constituídos
Diálogo social, a grande ilusão
A revolta popular provocada pela perspectiva de trabalhar por mais dois anos e pela aprovação forçada do Executivo confirma uma virada. Abalado por governos que definiram como objetivo a felicidade dos acionistas, o crédito concedido pela população ao mundo político desmorona. Este abdicou de sua missão, a ponto deixar nas mãos do Conselho Constitucional uma decisão da qual depende a vida de milhões de trabalhadores. Quando o descontentamento das pessoas comuns serve de guia (ver pág. 2), os líderes sabem alimentar dois tipos de reação: a resignação ou a revolta. Eles estavam contando com a primeira. No entanto, o desejo de viver uma vida digna reacendeu nos menos politizados a força de lutar. E até a Confederação Francesa Democrática do Trabalho (CFDT) redescobriu as virtudes da luta
O grande desencantamento curdo
As grandes instabilidades que o Oriente Médio vem enfrentando há pelo menos três décadas permitiram aos curdos do Iraque e da Síria, impossibilitados de atingir a independência, ao menos conquistar autonomia territorial. Entretanto, agravadas por dissenções fratricidas, as ameaças continuam numerosas, em particular no Rojava
Da derrota nasceram a resistência e a vitória
O que se passou nos últimos quatro anos foi um gravíssimo ataque à sociedade civil e aos movimentos sociais. A democracia não sucumbiu por muito pouco. Agora, a vitória de Lula precisa ter consequências concretas para o fortalecimento do campo popular
“O ouro e a madeira”
“O ouro / afunda no mar / madeira / fica por cima…” Assim se inicia o refrão de “O ouro e a madeira”, de Eraldo Gentil, interpretada por gigantes da música brasileira como Originais do Samba e Beth Carvalho e que inspira o título deste artigo. A canção orienta o tom do texto: sobrevivente de um país que nos persegue à morte, o movimento negro brasileiro permanece no front da construção de uma sociedade justa
A vitória eleitoral de Lula e a construção do poder popular
Um dos grandes desafios do governo Lula é retomar, de modo consistente, a participação popular. O povo precisa voltar ao centro do poder e exercê-lo, fortalecendo laços que reconstruam a relação entre as camadas populares e seus representantes
Nossas crianças precisam de atenção
Das crianças brasileiras com menos de 5 anos, 40% das brancas e 58,3% das negras apresentam algum grau de insegurança alimentar. Houve um crescimento de 54,5% no número de crianças muito abaixo do peso. A Fundação Oswaldo Cruz registrou que, durante 2021, diariamente davam entrada no SUS oito bebês com menos de 1 ano com quadro de desnutrição aguda
Um povo de pé
O discurso vazio do Executivo e a brutalidade policial testemunham a agitação febril do poder francês. E não poderia ser diferente: a contestação da reforma das aposentadorias carrega a semente do rechaço à ordem social sustentada pelo governo