O espectador impaciente
O cinema se transformou em uma lâmpada que se acende e apaga, um espelho giratório parecido com o que Franz Mesmer utilizava para hipnotizar seus pacientes. Trata-se de encher os olhos do espectador e da espectadora para que não vejam mais nada; e encher seus ouvidos para que não ouçam mais nada.
Greves em cadeia
A cobertura dos canais de notícias 24 horas da França revela um indisfarçável sentimento de rejeição ao movimento dos trabalhadores. Durante paralisação dos ferroviários iniciada em abril, jornalistas e comentaristas se revezaram para contar as “mortes” provocadas pela interrupção, enumerar prejuízos a estudantes e comerciantes e denunciar o que chamaram de “grevicultura”
A Goodyear e seus fantasmas
Eliminar mais de mil postos de trabalho na França enquanto fatura bilhões de lucro no mundo: esse foi o método da Goodyear para dobrar os sindicatos. Após uma longa ocupação da fábrica, o combate operário chegou ao fim em 2014, e os primeiros mortos surgiram. Voltar a Amiens permite medir o custo humano das demissões
As crianças mimadas do supermercado
A figura do consumidor livre em uma sociedade de mercado impõe-se com tal força que esquecemos as batalhas que foram necessárias para seu nascimento. Antes dos liberais incorporarem e colocarem no centro do jogo esse ator informado e calculista, a noção de sociedade de consumo servia de suporte, nos anos 1960, a uma contestação da ordem econômica
Marx e a exploração da natureza
Para alguns, a crise ecológica invalidaria as análises de Karl Marx, acusado de ter negligenciado a questão ambiental. O produtivismo desenfreado dos regimes que reclamam suas ideias pareceu reforçar essa crítica. Outros trabalhos sugerem, pelo contrário, que socialismo e ecologia constituem as duas abas de um mesmo projeto
A miséria do futebol africano
Das 32 seleções que disputam a Copa na Rússia, apenas Nigéria e Senegal representam a África subsaariana. O continente não carece de jogadores excepcionais, mas estes são desejados pelos países ricos. Campeões africanos em 2015 e classificados para as últimas três edições do mundial, os marfinenses assistem a esta Copa pela TV. No dia a dia, seus clubes profissionais apenas sobrevivem
Porcos, touros e gatos no banco dos réus
Nos dias de hoje, quando um cachorro morde uma criança, seu dono é considerado penalmente responsável e pode, portanto, ir parar num tribunal. Na Idade Média, era o próprio animal que precisava comparecer diante dos juízes
Fazer jus aos direitos dos animais
As universidades de Limoges, na França, de Basileia, na Suíça, e de Barcelona, na Espanha, oferecem cada vez mais diplomas em Direito Animal. O dinamismo dessa disciplina testemunha a crescente institucionalização da questão animal, em particular nos países ricos
A era dos açougueiros vegetarianos
Entre a descoberta de surpreendentes capacidades dos bonobos – que resolvem conflitos copulando – e o destaque conferido ao sofrimento das criações na pecuária, nossa percepção sobre os animais foi modificada e a questão assumiu uma importância inesperada. Em geral acalorados, os debates que surgem não podem ser reduzidos a caricaturas: os malvados carnívoros arrogantes contra os doces vegetarianos empáticos, ou, pelo contrário, o bom senso dos comedores de carne contra o sectarismo dos trituradores de cenoura. Os questionamentos que surgem são de fato relevantes: qual é a parcela animal do ser humano? Qual é a melhor forma de coexistir? Devemos alguma coisa às outras criaturas vivas? Resta, por fim, descobrir se esse acolhimento da alteridade, alimentado de emoção, pode contribuir para o progresso social
Um balanço da gestão de Pedro Parente
A Petrobras se desresponsabilizou de atuar em favor da segurança energética nacional, da autossuficiência e da garantia do abastecimento do mercado interno. Em vez disso, passou a priorizar a entrada de players e traders estrangeiros, a retomada da remuneração dos acionistas e o encolhimento de sua escala e de seu escopo de atuação
Petróleo: números, tendências e estratégias
Mesmo as grandes corporações privadas atuam no campo internacional de acordo com a estratégia de seu país de origem e seus interesses nacionais, sobretudo nas situações de crise econômica ou de ameaça geopolítica ou militar
No Peru, os Wampis estão determinados a proteger seu território
Enquanto as elites políticas peruanas afundam no escândalo de corrupção que acaba de destituir o presidente conservador Pedro Kuczynski, as populações indígenas defendem sua autonomia por meio da ideia de um Estado “plurinacional”, uma noção que já está inscrita nas constituições da Bolívia e do Equador
O investidor não vota
É um esboço cada vez mais bem-acabado. Um governo – progressista ou reacionário – toma uma decisão que desagrada às preferências das finanças. Os mercados ameaçam, o poder político renuncia, a mídia aplaude. A crise italiana demonstrou que o “círculo da razão” neoliberal se parece mais e mais com um nó apertado em torno do pescoço do eleitor
Sob os bons cuidados da CIA…
A esquerda norte-americana encontra aliados inesperados em sua luta contra Donald Trump: os serviços de inteligência. Em guerra aberta contra o atual presidente, a quem acusam de conluio com a Rússia, estes não hesitam em se apresentar como a última trincheira da democracia. É preciso, contudo, ser acometido de amnésia para aceitar tal discurso…
Nova velha desinformação
O trabalho de manter à margem do debate público coisas como o totalitarismo e a intolerância trouxe, junto ao peso da responsabilidade, um considerável poder a ser exercido pela grande imprensa
WhatsApp e as possibilidades de fortalecimento da democracia
Sabemos que a corrida eleitoral vai ser acirrada. Não tanto pelos candidatos fortes que temos, mas muito mais pelas disputas narrativas empreendidas por seus eleitores e os inúmeros veículos de comunicação. A arena certamente será o WhatsApp, que vem se tornando também importante substituto de veículos tradicionais de comunicação
Quem dá mais na campanha eleitoral na internet?
A reforma política favoreceu campanhas mais ricas e o modelo de negócios do Vale do Silício, além de se esquecer de proteger a diversidade de candidaturas e pautas
Os sentimentos comandam
A servidão voluntária pode ser compreendida como um ato de submissão, um reconhecimento da superioridade do outro, a quem se deve obediência. A servidão voluntária é uma construção simbólica que destitui todo cidadão e cidadã de sua humanidade, de seus direitos, de sua autonomia.
O capricho do príncipe
Há mais de um ano a imprensa norte-americana se esforça para demonstrar, sem elementos comprobatórios, que o presidente dos Estados Unidos deve sua eleição às fake news fabricadas por Vladimir Putin; Macron parece tomado pelo mesmo tipo de obsessão, a ponto de esperar conjurá-la por um dispositivo tão inútil quanto perigoso.