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A recusa de Sartre
Em 19 de abril de 1980, o enterro de Jean-Paul Sartre mobilizou uma multidão, como o de Victor Hugo, pouco menos de cem anos antes. Com a morte de Sartre, uma época de engajamentos e de recusa da etiqueta burguesa parece ter terminado. O exibicionismo midiático e o encastelamento universitário hoje em dia caracterizam os dois polos do mundo intelectual, ambos distantes do modelo sartriano

A V República em coma político
Nenhuma Constituição ocidental dá tanto poder a uma pessoa quanto na França, onde o presidente encarna uma espécie de “monarca republicano”. Imposta pelo fogo da Guerra da Argélia sobre os escombros da IV República, essa visão das instituições ainda faz sentido enquanto se multiplicam os desafios coletivos, sejam sociais, sanitários ou geopolíticos?

As singulares relações germano-israelenses
Logo após a Segunda Guerra Mundial, a Alemanha Ocidental tentou comprar uma imagem de pureza ao apoiar a construção do Estado de Israel. Desse modo, Bonn desempenhou no Oriente Médio um papel tão importante quanto desconhecido. Ao longo dos anos 1950 e 1960, contudo, essa diplomacia nem sempre conseguiu mascarar a existência de um passado prestes a ressurgir

Em Buchenwald, antifascistas perderam a batalha da memória
Com a libertação do campo de concentração de Buchenwald em abril de 1945, encerrou-se um calvário e começou uma história, a dos prisioneiros, em geral comunistas, que salvaram vidas ao custo de escolhas impossíveis. Mas seu gesto, celebrado pelo regime da Alemanha Oriental, foi brutalmente questionado após a queda do Muro. Os vencedores da Guerra Fria começaram então a reescrever a história

O futuro sorri para o Estado Islâmico
Em 23 de maio de 2017, centenas de combatentes do Estado Islâmico tomaram a cidade de Marawi. O Exército filipino precisou de cinco meses de cerco e bombardeio intensivo para reavê-la. Embora a população ainda culpe o Estado Islâmico pela destruição da cidade, a desconfiança e o ressentimento em relação às autoridades também têm aumentado

Autonomia enganosa nas Filipinas
Um Bangsamoro ampliado, com parlamento próprio, mais autonomia e mais recursos. Nas Filipinas, essas reivindicações antigas se tornaram realidade. Um governo de transição foi nomeado e tem três anos para assentar as bases de uma paz duradoura na região – uma perspectiva que desperta tanto esperanças como dúvidas
Fortalecer a resistência e mobilizar para a ação coletiva
A forma fascista neoliberal de fazer política precisa ser fortemente contestada. Em parte, isso significa criar uma nova linguagem, de fundamentação socialista, mas reinventada, para a política, a vida cívica, o bem público, a cidadania e a justiça social
Debandada norte-americana no Afeganistão
Curioso o acordo entre os talibãs e Washington, que ratifica a retirada das tropas norte-americanas sem praticamente nenhuma contrapartida. Já o governo central está paralisado. Nem o secretário de Estado, Mike Pompeo, em visita no dia 23 de março, conseguiu resolver a questão. Consequência: os Estados Unidos cortaram a ajuda de US$ 1 bilhão que davam ao país
Petrobras, privatização em águas profundas
Formado na Escola de Chicago, o ministro da Economia, Paulo Guedes, não esconde suas convicções liberais. Segundo ele, a intervenção do Estado prejudica a economia: o jeito então é recorrer à sabedoria do mercado… Ainda que Brasília negue o projeto de privatizar a Petrobras, a joia nacional começa a sentir os efeitos dessa visão de mundo
Coronavírus e a “volta às aulas”
O isolamento forçado expõe as desigualdades internas das instituições de ensino superior. Nas universidades públicas, a pandemia vai abrindo flancos para o desmonte do ensino presencial, bem como oportunidades de negócio para parceiros do governo federal
O combate ao coronavírus nas favelas
Em função das condições sociais e geográficas, a pandemia do coronavírus adquire no Brasil um grau alarmante de perversidade. Se entre o vírus e o hospedeiro se estabelece uma relação de ordem natural, quando se trata de sua difusão epidêmica ou pandêmica são as relações e as condições socioespaciais que passam a ordenar o processo
Viralização e confinamento
Será que a apresentação de uma batalha que se trava com máscaras e proibições, desembocando em hospitais que se desmontam tão logo são construídos, não participa de uma teatralização por si só viral, da qual um motivo é, por trás da necessidade legítima de agir juntos, a repugnância de se prevenir com relação às causas das tragédias planetárias?
Austeridade, a grande ceifadora
Estudo conduzido durante dez anos pelo epidemiologista britânico Michael Marmot demonstra: as políticas de contração orçamentária colocadas em prática a partir da crise de 2008 ampliaram o fosso que separa ricos e pobres em termos de expectativa de vida
Por trás dos muros da “fábrica de encomendas”
Em todo o mundo, os funcionários dos armazéns logísticos da Amazon enfrentam um afluxo sem precedentes de pedidos. O que está acontecendo nas gigantescas plataformas da transnacional norte-americana?
A tentação de recorrer ao “inevitável”
Preocupado com os riscos de estagnação econômica, o primeiro-ministro britânico Boris Johnson lançou uma aposta arriscada: a da imunidade coletiva. Em poucos dias, deu uma guinada de 180º
Uma mina de ouro para os laboratórios
A França revelou-se incapaz rastrear maciçamente os doentes com Covid-19, revelando a dependência da saúde pública em relação aos laboratórios privados
Até o próximo fim do mundo…
A pandemia de Covid-19 transformou o mundo. Passear com um amigo é cada vez mais impensável quanto respeitar as metas fiscais: o banal torna-se a exceção; o inimaginável, cotidiano. Enquanto alguns celebram a oportunidade de fazer bons negócios, outros se perguntam: salvar vidas justifica ameaçar o livre comércio? Nos prontos-socorros como nas salas de reunião, uma questão lancinante se espalha: o vírus teria matado tanto se as políticas de austeridade não tivessem desmantelado os serviços públicos?
A polícia política
São muitos os comportamentos das PMs que ultrapassam os limites legais, com a anuência de seus oficiais superiores, dos governos e da Justiça. O terror imposto nas favelas pela PM desconhece os limites da lei.
Desde já
A maioria de nós não passou diretamente nem por uma guerra, nem por um golpe militar, nem por um toque de recolher. No entanto, no final de março, quase 3 bilhões de habitantes já estavam confinados, com frequência em condições extremamente difíceis. Aconteça o que acontecer nas próximas semanas, a crise do coronavírus terá constituído a primeira angústia planetária de nossa vida: isso não se esquece.