R$ 24,00
O golpe de 2016 e o mar agitado da História
As tensões de classe latentes vieram à luz em junho de 2013. O golpe de 2016 foi tramado nesse contexto em que os dividendos econômicos já não davam para todos os segmentos de classe. O “nacionalismo burguês” cedeu espaço à “ditadura preventiva de classe”. Porém, a nova autocracia burguesa não consegue se legitimar facilmente pela força, tampouco está aberta a qualquer negociação com a “classe dos outros”
As eleições de 2018 e a não democracia
Um regime de não democracia não pode prescindir de eleições, pois, se assim fosse, se tornaria uma ditadura. Convém lembrar que até mesmo o regime militar de 1964 manteve um nível de eleições. Ademais, não realizar eleições implicaria abrir as portas para um contexto de pressão internacional que tornaria o regime de não democracia insustentável
Autorização para matar
Outros governos recorreram a práticas tão detestáveis quanto as do russo, sem que o caso suscitasse o mesmo tumulto diplomático. A “longa história de assassinatos encomendados pelo Estado” que ofusca hoje Johnson macula algumas das capitais ocidentais (Paris, Berlim, Washington), que, seguindo o movimento de May, fulminaram imediatamente a Rússia.
Riscos a administrar
Pela leitura dos acontecimentos, aqui levanto uma hipótese: a caracterização de um momento de ameaça às instituições, de violência aberta, poderia ser uma justificativa para levar o Congresso a adiar as eleições até que o país entre em normalidade institucional. Suspender as eleições é um risco, pois a população pode reagir, mas para os que se apossaram do poder é um risco calculado, que vale a pena correr para impedir o PT de ganhar as eleições.
Eleições em tempos de ditadura
Eleições só podem ocorrer com a resolução de duas equações: primeiro, a existência, com chances de vencer, de um candidato à Presidência proveniente do consórcio golpista; segundo, um Congresso majoritariamente igual ao atual ou pior que ele, cujo financiamento privado proveniente de interesses privatistas e do grande capital seja majoritário em número de parlamentares
Nem direita nem esquerda… nem centro
Em 2011, Gilberto Kassab lançava seu novo partido, o PSD: “Não será de direita, não será de esquerda nem de centro. É um partido que terá um programa a favor do Brasil”. Nas eleições legislativas de 4 de março último, a Itália viu a ascensão ao poder do Movimento 5 Estrelas, uma agremiação de mote parecido, mas com uma pretensão praticamente oposta: ser “antissistema”
O renascimento do Partido Trabalhista no Reino Unido
Um país onde a fragmentação caracteriza sobretudo o campo conservador? Onde a esquerda desperta entusiasmo nas multidões? E a esperança de novas conquistas eletriza os progressistas? Esse país existe. É o Reino Unido após a escolha de Jeremy Corbyn para líder do Partido Trabalhista em 2015, permitindo a refundação da esquerda mesmo no interior de um partido social-democrata tradicional
Irlanda: bolhas no concreto
Poucos países foram tão severamente atingidos pela crise de 2008 como a Irlanda. O estouro da bolha imobiliária levou o déficit orçamentário para além da faixa dos 30% em 2010 – algo jamais visto. Alguns anos depois, uma nova rodada de aumento de preços entusiasma uns e apavora outros
Refundar antes de reformar
Não se derruba um prédio com uma martelada. É preciso fazer pequenos cortes, abrir brechas… Esse trabalho fragiliza a estrutura: um mínimo movimento pode agora provocar o colapso do edifício. O mesmo vale para empreendimentos de demolição social. Desde os anos 1970, os liberais se empenham em enfraquecer os dispositivos de solidariedade nacional da França. O atual presidente, Emmanuel Macron, parece apostar que certos serviços públicos, como o das ferrovias, se tornaram degradados e impopulares o suficiente para que ele possa dar a estocada em favor do mercado. Pelo contrário, não era hora de fortalecer o interesse geral ?
Reflexões de um usuário de ferrovias
Opor usuários e trabalhadores de ferrovias não faz sentido quando todos sofrem com a degradação do serviço operada em nome do desengajamento público que o governo deseja reforçar. E o que pensar das declarações contra as mudanças climáticas enquanto trilhos são sucateados em benefício de estradas?
A história da rejeição aos servidores
Há dois séculos, dirigentes de todas as tendências políticas reivindicam a diminuição do número de agentes do Estado na França – por razões, por vezes, diametralmente opostas
Criar e transformar no limite do impossível
O Fórum Social Mundial 2018 contribuiu para aproximar as lutas de movimentos em resistência, estabelecendo relações anticapitalistas, antirracistas, antissexistas e anticoloniais. A prática mostrou que essa demolição e reconstrução de relações começa dentro da própria dinâmica do FSM e da articulação entre os movimentos
Em Fukushima, uma catástrofe banalizada
Abalo sísmico, tsunami e, depois, fusão de três reatores nucleares: o Japão ainda sofre as consequências das catástrofes de março de 2011. Além da onda ter feito na época um grande número de vítimas e causado prejuízos materiais, os resultados para a população e para a economia da falência da segurança central de Fukushima são profundos e duradouros
Neoliberalismo autoritário em cinco atos
A solução da crise econômica tem se dado por meio de expropriações capitalistas que, para desativar a sobreacumulação de ativos fictícios, precisam mercantilizar espaços ainda não exclusivamente mercantilizados, de modo a deixar o capital fluir, se expandir e se (re)acumular. Expropriações são processos indiferentes à anuência do expropriado e, portanto, violentos simbólica e fisicamente.
A era do fichamento generalizado
Em nome do roubo de identidade (que vitima algumas centenas de pessoas por ano), o governo francês autorizou a criação de um mega-arquivo com os dados, especialmente biométricos, de todos os titulares de carteira de identidade ou passaporte. Despercebida no cenário de segurança atual, essa decisão lança pesadas ameaças sobre as liberdades individuais
A Igreja Católica do Congo contra Joseph Kabila
Desde 31 de dezembro de 2017, as manifestações de militantes católicos se multiplicam na República Democrática do Congo. Elas reclamam eleições diretas antes do fim de 2018. O poder responde violentamente: diversas dezenas de mortos (difícil de calcular com precisão), prisões arbitrárias às dezenas e locais de culto profanados
O último combate de Martin Luther King
Em 4 de abril de 1968, Martin Luther King foi assassinado por um defensor da segregação racial. Cinquenta anos depois, a história oficial atém-se à imagem do pastor negro que lutava pelos direitos civis e à do patriota trabalhando pela reconciliação nacional. Essa visão, entretanto, ignora partes inteiras de uma vida consagrada à busca pela igualdade em todas as suas dimensões
Procuram-se desesperadamente fiscais da receita
Podemos mudar o mundo sem incomodar muito os poderosos? Os governos latino-americanos progressistas, aceitando condicionar suas políticas de justiça social ao crescimento das exportações, facilitaram a tarefas daqueles que operaram para derrotá-los: com a economia em baixa, os caixas secaram… e a crítica fez a festa. E se a audácia começasse pelo imposto?
“A intervenção é uma farsa, assim como a UPP”
Nascida e criada no Morro do Preventório, em Niterói (RJ), a funkeira MC Carol, de 24 anos, falou ao Le Monde Diplomatique Brasil sobre feminismo, violência, racismo, política e música
A Escola Comum
Os estudantes da Comum são incentivados a ser sujeitos cosmopolitas no sentido amplo do termo: a pensar para além de agendas partidárias e a buscar entender como diferentes países têm enfrentado seus problemas sociais.
O desafio de Marielle
É que Marielle Franco reunia em si uma espécie de corte transversal nas questões mais prementes de nossa sociedade, uma espécie de caleidoscópio com todas as cores dos problemas que nos afligem. Tirando-se a questão dos povos indígenas, estava tudo lá, impresso em seu corpo, em sua vida e em sua atuação: mulher negra, pobre, mãe solteira, lésbica, militante dos direitos humanos e, para levar ao auge o ódio que inspirava em setores da sociedade, muito bem-sucedida naquilo que fazia.