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O acordo UE-Mercosul e o Cerrado
Tratado tende a reforçar o modelo de dependência pós-colonial de exportação de commodities e importação de industrializados, além de impactar importantes políticas de fortalecimento da agricultura familiar e tradicional e programas de compras públicas, que já vêm sendo sucateados. Para o Cerrado, alvo da expansão da captura de terras, seria uma verdadeira catástrofe
O torniquete presidencial peruano
Desesperançados, os peruanos elegem seu próximo chefe de Estado em abril de 2021. Após uma sequência de renúncias e destituições, quatro presidentes sucederam-se no comando do país desde a última eleição, em 2016. Dos quatro precedentes, eleitos desde 2001, três foram indiciados por corrupção e um preferiu o suicídio. Como explicar tamanha instabilidade?
A Alemanha Oriental era antissemita?
O esforço de reescrever a história lançado no fim da Guerra Fria continua até hoje. Na Alemanha, uma poderosa corrente intelectual imputa a atual multiplicação de atos antissemitas à existência da Alemanha Oriental, a outra Alemanha, comunista, que desapareceu em 1990. É o cúmulo quando se conhece a longa indulgência do Ocidente com os antigos nazistas
O retorno da Rússia à África: uma ilusão de ótica?
Após um longo eclipse, a Rússia retoma o passo na África. Apresentado por Paris como uma manobra tortuosa, esse retorno assinala, na verdade, a banalização da potência russa. Moscou que, no passado, apoiou lutas contra o apartheid na África do Sul e pela descolonização, contenta-se atualmente em preencher sua carteira comercial e reforçar parcerias de segurança
O impasse das políticas identitárias
Com raízes históricas longínquas, a linguagem identitária explodiu com as redes sociais e os canais de notícias 24 horas. Anteriormente reservada à direita, ela impregna cada vez mais os discursos de militantes e dirigentes políticos de todos os campos, a ponto de transformar a “raça” em uma variável gigantesca, que esmaga todas as outras
Na Tunísia, as brasas persistentes do espírito de revolta
O jogo político competitivo consagrado pela nova Constituição, adotada em 2014, foi pervertido pelas intrigas dos partidos majoritários e pela onipresença do dinheiro privado – por vezes oculto, ou de origem estrangeira – no financiamento das organizações políticas e nas campanhas eleitorais
Outro mundo impossível é possível
Como será o pós-pandemia? As políticas para enfrentar a crise sanitária aceleraram tendências de fundos que atravessam as sociedades e preocupam as populações: incerteza, precariedade, automação voraz, eliminação das relações humanas. No essencial, essa transição para o capitalismo digital será pilotada pelo Estado
Bomba livre-cambista na Ásia
Nada de trégua no confronto China-Estados Unidos. Pequim marcou mais um ponto ao firmar com outros catorze países asiáticos a Parceria Econômica Regional Global, o maior acordo de livre-comércio já assinado. Além das consequências econômicas, o tratado consolida a imagem de uma Ásia dinâmica, que se entende apesar das divergências políticas e estratégicas
A era das finanças autoritárias
“Loucura”, “erro”, “blefe”… Desde o referendo de 2016, o Brexit é apresentado como fruto de uma infeliz combinação de acasos. Contudo, ele atende perfeitamente aos anseios da fração emergente das finanças, para quem a regulamentação europeia – tão preocupada em não desagradar os poderosos – ainda atrapalha demais
Expurgo no Reino Unido
O ex-líder do Partido Trabalhista britânico Jeremy Corbyn acaba de anunciar o lançamento do Projeto pela Paz e a Justiça, maneira de seguir sua luta contra as desigualdades e o imperialismo. A iniciativa vai se beneficiar do desvio direitista do seu sucessor no Labour, Keir Starmer, eleito para reconciliar um partido dividido, mas que se empenha em calar a ala esquerda
Os estados desunidos da América
Devemos considerar essas instâncias de poder, no âmbito dos estados, como expressão da democracia? Em vista da repetida incapacidade de Washington aprovar um orçamento, seria tentador responder que sim. Mas, em compensação, a margem de manobra deixada para os cinquenta membros da Federação contribui para silenciar vozes dissidentes e enfraquecer a representação democrática
O mito da biossegurança
Com certos vírus ultrapassando a barreira entre espécies, como parar as cada vez mais preocupantes epidemias na pecuária? A resposta sanitária internacional parece ser dobrar a aposta no modelo industrial. As medidas preconizadas ameaçam a saúde e os ecossistemas, enquanto condenam a agricultura familiar
A produção social de doenças e de crises
As respostas para os problemas reiterados no campo têm sido dobrar a aposta na produtividade, que vai levando ao extremo a noção de monocultura, a qual parece querer se produzir por si mesma, sem diversidade ambiental e sem gente
Pan-demônio e Sars-Cov-2
Há uma inequívoca correspondência na distribuição espacial entre as áreas com grande presença de suinocultura e/ou de frigoríficos e aquelas com alta taxa da população infectada por Covid-19
Geopolítica da fome
Não surpreende que a falsa promessa de acabar com a fome por meio do aumento da produtividade agropecuária nunca tenha se cumprido. Verdade seja dita, desde a consolidação do setor agroindustrial, a fome continuou crescendo. Dados da FAO revelam que, antes da pandemia, uma em cada quatro pessoas no mundo passava fome: quase 2 bilhões de pessoas
Covid-19 na trilha do trabalho precário e vulnerável: o caso dos frigoríficos
Em lugares onde o setor de frigoríficos possui importância econômica, os casos da doença assumiram papel significativo. O setor se tornou centro de propagação da Covid-19, seja para os municípios–sede dos abatedouros, seja para os circunvizinhos, já que boa parte dos trabalhadores das fábricas se desloca diariamente para o trabalho
A pandemia e o agronegócio no Brasil
A entropia interna ao sistema agropecuário global deve ser entendida como uma ameaça existencial para toda a humanidade. O admirável mundo novo das pandemias rebaixou os limites para a existência humana: agora estamos presos debaixo do teto de zinco das granjas de abate de animais em massa, cada uma delas uma fábrica em potencial da próxima bomba microbiológica
Lições aprendidas sobre a democracia brasileira
É um momento crítico, marcado por recessão, desemprego, fome e pandemia. O que vem pela frente nos enche de angústia e desalento. Mas pode ser diferente.
Quem será o próximo inimigo?
Já que Washington pretende garantir a liderança da cruzada democrática – “A América está de volta, pronta para governar o mundo”, proclamou Joe Biden em 24 de novembro de 2020 –, os países–satélite deveriam entender que os norte-americanos não têm mais um acordo quanto à identidade de seu principal adversário. As razões têm pouco a ver com a geopolítica mundial e tudo a ver com suas divisões internas.